ha 29 anos atras eu vivia dentro de alguem. como sera a vida dentro do utero? alimentando-me pelo umbigo, percebendo o mundo la fora pela plasticidade dos musculos de outrem. sabe quando voce coloca a mao na contra a luz e ve atraves da pele, uma luz vermelha e opaca? deve ser parecido. mas os olhos estao fechados, entao isso nao faz sentido. entao sao sons, vibracoes, movimentos; a pessoa balancando la dentro. a gosma, deve ser gostoso. ficaram sabendo de um bebe que sobreviveu quatro dias debaixo da lama depois do tsunami? ouvi dizer, que, somehow, o bebe retrocedeu a uma respiracao e contato com o externo similar ao de quando esta no utero e nao respirou pelo nariz, misturou-se com o barro, como eva. somos o barro, viemos do barro, somos quimicos, minerais, que coisa louca, sera verdade? disseram que houve um caso parecido no brasil, de um bebe que foi encontrado num lago. nao sei. boatos, mas a gente ouve e pensa neh, porque nao? mas falando em afetacao, ontem assisti um documentario sobre uma comunidade na suecia, que pessoas do mundo inteiro vao, para viver experiencias de contato - com o outro - com a natureza - cosigo mesmos - lembrei dos tempos das aulas de interpretacao, lembrei da minha falta de concetracao quando tinhamos aquelas aulas de "sinta o chao" "sinta o contato", essas paradas. eu sempre tive uma voz que se divertia e eu nunca entrava na pira e olha que eu me esforcava, mas tinha uma graca tao grande naquilo e minha cabeca movimentava-se com pensamentos do tipo "alguem ta realmente sentindo isso?" ai eu olhava para o lado e via a galera interagindo, se entregando para a causa e eu pensando"concentra" e tentava concentar. ai tinha alguem ja rolando no chao, outros gritando e correndo e eu pensava "sinta, sinta o contato", mas ai eu abria os olhos e, tava la, um grupo de pessoas se misturando, externalizando, falando palavras com tanto sentimento e eu pensava que tinha algo de errado porque eu nao sentia muita coisa, sentia mais curiosidade em olhar aquela cena toda, mas ai eu lembrava que queria muito mesmo ser atriz e que para ser atriz, eu tinha que "me entregar!!!", sim, eu queria, "entregue-se, entregue-se ao contato" e dai, nessa altura, ja havia uma movimentacao intensa around e o melhor era fingir "finja o contato!" e dai eu "me entregava" e me jogava e rolava e dava os gritos e coisa e tals, no fundo, esperando a tal da enrtega chegar o tal sentimento aparecer mas acho que sou meio fria mesmo ou sofro de excesso de ironia. curiosidade que ainda impera eh "alguem realmente se entrega?", provavelmente, ou fingem melhor que eu. tem uma amiga minha que sempre pergunta: "mas e ai, desistiu do teatro?", coitado do teatro, desistir dele assim neh...o problema era falta de conviccao mesmo, essa tal falta de conviccao que me atrapalha de ser uma jovem mulher bem sucedida. foda, lembro daquela vez que entrei em cartaz com uma peca que eu nao tinha muita conviccao, nem na peca, nem na minha personagem. que canastrice. voce nao acredita na personagem? "sinta a personagem, suas motivacoes, seus medos, sinta!". mas era foda que, no final, eu sentia uma vergoinha de agradecer, sabem, aquela coisa de ir para a frente do palco e abaixar e dai as pessoas aplaudem? eu ficava com um sorrisinho de canto pensando "foi mal gente, eu sei que que a peca eh mala, obrigada pelo seu tempo e mal mesmo ai..." ai um dia minha colega de cena me deu um toque e disse que as pessoas percebiam que eu fazia essa cara, ai foi foda, ok, agora eu faco cara de convicta e tentava nao esquecer a cara de "acredita, acredita na atriz que vive em voce". eh por isso que eu acho que nunca passava nos testes tambem. sabem audicao? pedem pra voce levrar uma cena para aprensetar e tals, ai eu ensaiava e ia meio preparadinha com a ceninha na cabeca, mas ai chegava na audicao e via aquele monte de atores, com roupas coloridas, personas excentricas, rolando no chao, aquecendo a voz, aquecendo o corpo, trabalhando na network, batendo o curriculo e pensava "ninguem fala comigo, por favor, nao falem comigo", o proximo pensamento era, "e se eu passar caralho, vou ter que fazer a parada mesmo, vir aqui todo dia, com essas pessoas e tals...sera?", ai pensamento vai, pensamento vem e eu ja estava desconcentrada para a audicao. ai era o frio na barriga de entrar na sala e aprensentar a tal cena para o tal diretor, que era, normalmente, um cara com cara de mau, que falava comigo num tom arrogante e eu ja ia desacreditando novamente "ok, eu sei que voce eh fodao, mas nao me olha com essa cara seu cuzao..." "acho que nao gosto de voce, diretor" "sera que quero mesmo ser atriz?" "acho que nao quero trabalhar com esse cara" "acho que nao quero trabalhar com esses atores" e, pensamento vai, pensamento vem, na hora de fazer a cena, eu ja tinha ficado com muita preguica "quero ir logo pra casa..." "nao, eu quero ser atriz!" "concentra, acredita!" ai quando entrava no centro do espaco cenico (assim que chama), tinha que lembrar da cena preparada, mas ai, eu ja tinha pensado tanta coisa que a cena sempre saia um lixo, o diretor me olhava com enorme desprezo e eu saia da salinha, olhava os atores, ouvia conversinhas, saia do predio e sentia um misto de alivio e reprovacao, eu, afinal, queria ser atriz e queria acreditar. falta de fe. que frieza. enfim. onze e vinte e sete aqui. vou sair agora, pegar um metro e um trem e ir para o norte da cidade. hoje posso colocar chinelos.
No comments:
Post a Comment