e de pensar que nada disso poderia existir. um meteoro. uma escada. um ultimo respiro. e pa. a morte esta sempre ao nosso lado. se um mundo acabar depois de amanha. fim. se nao acabar depois de amanha. ja acabou um pouco hoje. ja mudou. um dia da minha vida ja esta prestes a morrer. e nos nem nos damos conta da preciosidade daquilo que estamos tendo. dos tempos. das frases. dos apelos da vida. e se eu tivesse morrido ontem. ou, se voce tivesse morrido ontem. tantas coisas que ainda eu poderia ter dito. ou feito. tantas coisas que nao fazemos. por nao lembrarmos que a vida esta acabando. agora. e nao lembramos que nada existia antes de existir. antes da primeira arvore. do primeiro suspiro. das primeiras palavras que resolvemos trocar um dia. antes do primeiro passo. ou daquele passo que deixamos de dar. do medo de nao dar certo. do medo do inesperado possivel. antes de qualquer historia começar, ela podia nem ter começado a existir. seria melhor? seria pior? seira outra historia. e daquilo tudo que temos amor. quanto vale nosso orgulho? o gatinho do vinicius morreu atropelado na rua de sua casa. e um milesimo de segundo antes, ele ainda estava vivo. nao vimos o corpo. so ouvimos historias. soubemos de seu corpinho encontrado pelo varredor, jogado dentro de uma saco de lixo. poderia ser eu. poderia ser voce. serei eu um dia. e voce noutro. velamos os corpos. nao celebramos a vida tanto assim. e antes de tudo começar, tudo estava parado. sem tempo. sem espaço. sem nos. e depois do corpo sumir, todo o resto continuou. quase igual. quase. quase tudo. a dor da saudade daqueles minutos antes do gatinho escapar pela fresta do portao. ainda poderimos ter olhado seus olhos verdes arregalados, pela ultima vez. ou antes disso, por onde mesmo esteve o gatinho? paramos de ve-lo ha quanto tempo mesmo? e achamos que ele sempre estaria ali. seus pelos pela casa, ainda aparecerão na escova da vassoura por semanas. se, ainda tivessemos feito alguma coisa, tres minutos antes, ele nao teria escapado. ou se tivessemos percebido que algo poderia, de fato, acontecer, teriamos feito tudo de outra maneira. ou acreditamos que teriamos. ou tentariamos fazer. sera? nao nos importariamos tanto com a limpeza dos sofas. nao o fariamos correr de medo do aspirador. ou da solidão. antes de tudo existir, nao existia aquela historia. aquela casa. nossos moveis. nossos sonhos. poderiamos nunca ter passado por este quarteirao. nem nunca te-lo visto na gaiolinha de adoção. se nunca tivessemos pegado o gatinho, ele talvez nunca tivesse existido. ele teria outro nome. outro dono. outra historia. talvez ele vivesse mais. talvez nao tivesse sido castrado e tivesse tido filhotinhos. ou talvez morasse num apartamento qualquer da cidade, isolado de tudo isso. o gatinho veio, numa tarde de verao. tao pequenininho. ele veio cheio de sorrisos nossos. quando ainda acreditavamos que isso tudo seria possivel. e talvez ainda seria possivel. e talvez ainda seja possivel. talvez a vida esteja aqui, do lado de cá. talvez ainda haja vida. e talvez ela nao esteja dentro de um saco preto de lixo. talvez ainda possamos fazer tudo diferente. e tudo novo. de um novo jeito impossivel. talvez possamos criar uma nova vida. se tivessemos pensado nisso tudo, ha uma semana atras, hoje talvez estivessemos aqui fazendo isso. se eu soubesse que voce poderia nao estar aqui nunca mais. talvez eu corresse mais um pouco. se eu soubesse que voce nunca poderia ter cruzado a minha porta, eu faria algo diferente agora? talvez eu pudesse nunca ter estado aqui. e talvez voce poderia nunca ter vindo. mas agora estou aqui. e ainda estou viva. se o mundo acabar depois de amanha. ou se ele nao acabar nunca. isso vai ter sido isso. ou aquilo. o que é mesmo essencial? no final, talvez ainda possamos viver ate o final chegar.
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