suzana acordou sozinha no meio da manha, com insonia. ainda eram sete da madrugada, quando percebeu que a viagem ja tinha acabado. sonhou com amigos antigos que estavam gravidos e com uma cidade imaginaria onde encontraria seu amor numa esquina. sentiu agonia. revirava as ruas e o amor nao vinha. respirava com dificuldade e um ranho escorria. procurava por papel higienico e encontrou um grupo de teatro do passado. ela chupava o grosso ranho para que ninguem visse o desgosto, mas ele escorria rapido e ela, sem escolha, teve de recorrer para as mangas da blusa. mas, no sonho, era verao, e a manga era curta. usou, entao, a parte de baixo da camiseta, que ficou molhada e gosmenta. lembrou-se da epoca da escola, quando, em dias de inverno e gripe, tinha de terminar as provas correndo para assoar o nariz no banheiro antes que a reputacao piorasse. isso jamais foi sabido ou considerado pelos professores na hora da avaliacao, mais uma da escola e suas proibicoes desgracadas. nada de mais, sobreviveu. e, agora, ja era uma velha senhora. sentia-se nova ainda, mas o espelho nao correspondia. ou talvez fosse o espelho que correspondesse-se com ela, distorcendo realidades e confundindo tudo que talvez fosse, ou pudesse ser, com essa coisa de calendario. talvez so estivesse. nada fazia muito sentido, anyway. ainda tinha uma jovialidade presente ali, embora carregasse uma ancia (com ~) na cabeca (com cedilha). as duas tinham de ser amigas, juntamente com todas as outras mulheres de todas as idades, desejos e duvidas que ela poderia e, de fato, carregava dentro de si. sao muitos personagens. eh porque era atriz, na adolescencia. quem era ela mesmo? nao sei, perdeu-se la pelos vinte e um. agora sobrou isso, serve? da pra dar desconto? embora ela tentasse preservar a ordem, o quarto permanecia na bagunca de seu coracao e roupas espalhadas pelo chao, pelas cadeiras e em cima de malas que nao foram desfeitas. e ela nao incomodava-se tanto assim. paciencia. a porta abriu, quem eh? sao sete da manha ainda, deve ser engano. vou enfiar-me debaixo do cobertor para que ninguem perceba minha solidao. e fingirei que durmo, para que os sonhos acreditem e cheguem aos pouquinhos, de novo.
boa noite, dia.