Wednesday 27 March 2013

mais uma coisa que passou

foda encarar o julgamento, dentro de mim mesma, imaginando todos os olhos do mundo voltados pra cá. e quem ta certo, quem ta errado? e daí eu buscava um lado. e lados são extremos. extremos são construções da mente humana para conseguir pensar sobre as coisas...mas as coisas são menos bidimensionais...somos mais complexos, e mais simples do que isso também...

Tuesday 26 March 2013

consideramos justa toda forma de amor

iolanda não era nome que iolanda gostasse quando era criança. quando era criança iolanda desejava chamar-se luciana. iolanda cresceu. e agora mora no largo do arouche. assiste novela. e sempre diz que gosta mais da gloria pires do que da claudia raia, embora não haja necessidade de pensar nessa escolha. não gosta de natal. mas gosta de páscoa porque a vizinha chama para o bacalhau. não gosta de sapato baixo. pinta as unhas de rosa. não come carboidratos aos sábados. gostaria de conhecer as cataratas do iguaçu. mora com antonio fagundes, seu bege cachorro marrom. não dorme antes da uma. não acorda antes das dez. veste pijama de bolas amarelas. está sentada a esta hora num sofá verde limão. assistindo o lulu santos cantar na tevê, aquela mesma velha canção.

Tuesday 19 March 2013

tem gente que fala o que pensa. tem gente que fala sem pensar. tem gente que só fala e não pensa. tem gente que pensa e prefere não falar. tem gente que é quadrada. tem gente que é triangular. tem gente que come cru. tem gente que enxerga o luar. tem gente que gosta de bola. tem gente que gostar de cantar. tem gente que rema barco. tem gente que toma chá. tem gente que prefere salgado. tem gente que prefere evitar. tem gente que gosta de inhame. tem gente que come fubá. tem gente que usa touca. tem gente que usa roupão. tem gente que anda de bengala. tem gente que tem medo de avião. tem gente que se perfuma. tem gente que usa batom. tem gente que tem medo de sapo. tem gente que segura sapo com a mão. tem gente que é feita de gente. tem gente que é feita de pão.

Wednesday 13 March 2013

piuí namomolecular

eu não entendi do que ele estava falando.
mas ele estava em silêncio.
ouvindo o radinho do celular.
é que as ondas da avenida paulista alteram nossa atomicidade.
por isso que a mulher de regata azul entrou esbarrando em todo mundo. atrito de corpos.
furiosa reclamou. depois empurrou. depois bufou.
não tem jeito senhora. neutralizemo-nos perante o fenômeno.
seis da tarde.
en-ta-fui-a-dos, como se diz no interior.
dar boi, outra coisa que se diz no interior.
ô trem bão, outra coisa, mas esse é de minas.
treze. do três. de dois mil. e treze.
que dia engraçado, disse o moço.
vou jogar na megasena.
você conhece alguém que ganhou?
ela sentou-se na mesa. olhou para mim.
levamos um susto.
que foi?
descobri que não existe aposentadoria.
como assim?
é meu amor, a vida vai continuar até que acabe.
o que vamos esperar então?
o trem.
há de esforçar-se um tanto grande para uma pequena sensível melhora. a ditadora mente insistindo argumentativamente em argumentar seus ortodoxos argumentos. as envenenadas expectativas. o imaginário quase invencível. o ar que tenta invadir sem pausa. a descontrolada ânsia que sobe do estômago. silêncio por favor. um branco. caio aqui neste corpo. e os pés? olhei para baixo e eles estão - fatalmente - aqui. agora.

Sunday 3 March 2013

relax

e minha amiga me contou o caso de sua experiência nas aulas de yoga. achei curioso. é que essa amiga minha é uma pessoa  muito reservada. e ela tem frequentado as aulas de yoga da academia do bairro. ela também é um pouco estressada, a minha amiga. então ela procura relaxar. e meditar. alongar. mas aí tem a professora de yoga. do tipo feliz e expansivo. que agonia uma pessoa como minha amiga, que aprecia seu direito à suas reservas. então minha amiga fica bastante aborrecida com o comportamento da tal professora. que depois do relaxamento completo, pergunta expansivamente para os alunos, se a prática foi boa. aluno por aluno, minha amiga se queixa com lamentação. minha amiga,  por ser reservada, se constrange. o corpo imediatamente tensiona por ter de responder a questão. e a razão não vê ponto na pergunta já que acha obvio que ninguém vai falar pra professora que não gostou da aula dela. então ela se irrita, porque a professora ainda insiste. e acha perda de tempo ficar escutando um por um já que ninguém vai ser honesto mesmo. então ela está com dúvidas se vai continuar frequentando as aulas. porque essa coisa da professora perguntar a coisa no final, acaba fazendo ela sair da aula ainda mais estressada.

o julgamento

aquela ali sou eu. mas sentada aqui eu desconfio que eu ali não me represento bem. me parece invasivo ocupar seu espaço falando de mim. ou ocupar meu espaço ouvindo você falar de você. e depois esta festa vai acabar. e a gente vai se adicionar na rede social só pra sociabilizar. não que eu não tenha interesse em te conhecer. mas é essa burocracia. esses pre-requisitos pra gente se iludir achando que a gente vai se gostar. ou não. porque tem coisa que não se fala. não sei. se você quiser, podemos tomar um banho juntos. talvez ali no meio do silêncio, da água escorrendo deselegantemente pela boca que solta baba, descobriremos alguma coisa refrescante. você talvez veja meu suvaco peludo. e eu talvez veja sua unha do pé sem cortar. talvez ali sejamos duas pessoas. molhadas. e tudo bem.