Wednesday 19 December 2012

o gato. e o fim do mundo num saco de lixo preto.

e de pensar que nada disso poderia existir. um meteoro. uma escada. um ultimo respiro. e pa. a morte esta sempre ao nosso lado. se um mundo acabar depois de amanha. fim. se nao acabar depois de amanha. ja acabou um pouco hoje. ja mudou. um dia da minha vida ja esta prestes a morrer. e nos nem nos damos conta da preciosidade daquilo que estamos tendo. dos tempos. das frases. dos apelos da vida. e se eu tivesse morrido ontem. ou, se voce tivesse morrido ontem. tantas coisas que ainda eu poderia ter dito. ou feito. tantas coisas que nao fazemos. por nao lembrarmos que a vida esta acabando. agora. e nao lembramos que nada existia antes de existir. antes da primeira arvore. do primeiro suspiro. das primeiras palavras que resolvemos trocar um dia. antes do primeiro passo. ou daquele passo que deixamos de dar. do medo de nao dar certo. do medo do inesperado possivel. antes de qualquer historia começar, ela podia nem ter começado a existir. seria melhor? seria pior? seira outra historia. e daquilo tudo que temos amor. quanto vale nosso orgulho? o gatinho do vinicius morreu atropelado na rua de sua casa. e um milesimo de segundo antes, ele ainda estava vivo. nao vimos o corpo. so ouvimos historias. soubemos de seu corpinho encontrado pelo varredor, jogado dentro de uma saco de lixo. poderia ser eu. poderia ser voce. serei eu um dia. e voce noutro. velamos os corpos. nao celebramos a vida tanto assim. e antes de tudo começar, tudo estava parado. sem tempo. sem espaço. sem nos. e depois do corpo sumir, todo o resto continuou. quase igual. quase. quase tudo. a dor da saudade daqueles minutos antes do gatinho escapar pela fresta do portao. ainda poderimos ter olhado seus olhos verdes arregalados, pela ultima vez. ou antes disso, por onde mesmo esteve o gatinho? paramos de ve-lo ha quanto tempo mesmo? e achamos que ele sempre estaria ali. seus pelos pela casa, ainda aparecerão na escova da vassoura por semanas. se, ainda tivessemos feito alguma coisa, tres minutos antes, ele nao teria escapado. ou se tivessemos percebido que algo poderia, de fato, acontecer, teriamos feito tudo de outra maneira. ou acreditamos que teriamos. ou tentariamos fazer. sera? nao nos importariamos tanto com a limpeza dos sofas. nao o fariamos correr de medo do aspirador. ou da solidão. antes de tudo existir, nao existia aquela historia. aquela casa. nossos moveis. nossos sonhos. poderiamos nunca ter passado por este quarteirao. nem nunca te-lo visto na gaiolinha de adoção. se nunca tivessemos pegado o gatinho, ele talvez nunca tivesse existido. ele teria outro nome. outro dono. outra historia. talvez ele vivesse mais. talvez nao tivesse sido castrado e tivesse tido filhotinhos. ou talvez morasse num apartamento qualquer da cidade, isolado de tudo isso. o gatinho veio, numa tarde de verao. tao pequenininho. ele veio cheio de sorrisos nossos. quando ainda acreditavamos que isso tudo seria possivel. e talvez ainda seria possivel. e talvez ainda seja possivel.  talvez a vida esteja aqui, do lado de cá. talvez ainda haja vida. e talvez ela nao esteja dentro de um saco preto de lixo. talvez ainda possamos fazer tudo diferente. e tudo novo. de um novo jeito impossivel. talvez possamos criar uma nova vida. se tivessemos pensado nisso tudo, ha uma semana atras, hoje talvez estivessemos aqui fazendo isso. se eu soubesse que voce poderia nao estar aqui nunca mais. talvez eu corresse mais um pouco. se eu soubesse que voce nunca poderia ter cruzado a minha porta, eu faria algo diferente agora? talvez eu pudesse nunca ter estado aqui. e talvez voce poderia nunca ter vindo. mas agora estou aqui. e ainda estou viva. se o mundo acabar depois de amanha. ou se ele nao acabar nunca. isso vai ter sido isso. ou aquilo. o que é mesmo essencial? no final, talvez ainda possamos viver ate o final chegar.

Sunday 9 December 2012

searching soul



num quartinho de um hotel numa cidadezinha no meio de minas. e nao sei onde estou. nao vi o nome. nao sei se faz diferenca. e tenho um prazer nao tao secreto em nao saber. nao sei a estrada que peguei. e nem pra onde vou amanha. passaram-se poucos dias. dias pareceram anos. numa casinha de porta e janela azul. criancas. vaga-lumes. estrelas. e longos dias respirando perto do riacho. um ano. talvez mais. e da ultima vez ainda era inverno. na holanda uma tempestade de neve esta prevista para este domingo. e eu meio do verao. no meio de algum lugar de minas gerais. em tantos anos, poucos emails. poucos sinais do futuro. poucos contatos do passado. o que existe sem voce estar? duas pessoas distantes escrevem dizendo que sonharam comigo. andei passeando? os sonhos estao cada vez mais intensos. e a realidade cada vez mais onirica. na cidade de sao paulo, pessoas devem estar fazendo compras. e visitando a decoracao de natal da avenida paulista. em abadia, tem muita gente que nunca viu um predio. e a rotina do bar da geralda parece que nao vai mudar por causa de nada nesse mundo. parece que ali vai sempre aquela calmaria. na frente de uma igreja que so funciona no primeiro domingo do mes. assisti uma missa. e no meio da missa tem uma hora que o script era abracar todo mundo. e eu abracei. e fui abracada. se eu tivesse la no proximo primeiro domingo, iria de novo, so para poder abracar. no fundo da igreja tem uma sala de promessas. e no banheiro da igreja tem cascas de jabuticaba deixadas pelos morcegos. no meio da noite, vi uma taturana enorme. no meio do dia, um sapo giganesco. e uma cobra de dois metros. enquanto isso, tanta coisa acoteceu fora de la. e tanta coisa aconteceu dentro de mim. o que eh mesmo essencial? as frutas do quintal. os restos de lixo organico para as galinhas. o resto de comida para o cachorros da vila. depois, os ovos da galinha, feitos com o resto do lixo organico. e bolos e paezinhos trazidos pela vizinhanca, feitos com os ovos das galinhas do quintal. o que eh essencial? em abadia nao tem telefone. ninguem tem email. fui pedir autorizacao de imagem para as familias, e os pais nao lembravam as datas de nascimento de seus filhos. rg, nenhuma crianca tinha. algumas, nem pais tinham. mas eles sabiam fazer carrinhos de madeira. e a gente eh sabida que nao tem medo da vida. nao tem medo de cobra. de aranha. de gente. mas tem medo de assombracao. ninguem tem muito nome. nem idade. as familias estao espalhadas por ai. tem crianca que cresce. tem crianca que morre. tem crianca que vira homem e vai logo para o bar. tem menina que vai casar. e tem gente que vai sair dali para nunca mais voltar. meu endereco continua sem ser. meu coracao procurando um lugar pra morar. o amor eu nao sei direito. nao sei de datas. de tempo. nao sei muito de nada. fora do lugar, nao ha lugar. longe de tudo, so ha o que ha. estou aqui, com a mesma calca marrom. a cor da pele mudou. o cabelo encaracolou. talvez tenha sido o shapoo para cabelos secos que minha mae me deu. nao tenho cabelo seco. tenho? sei la. tenho esse corpo que se move. e um espirito que passeia. connheci esse dias uma menina que me contou uma historia que nao sei se eh uma lenda ou se eh verdade. mas ela me disse que o indio sai para cacar. e quando volta, a tribo deixa ele descansando por quatro luas. que eh o tempo que o espirito demora para voltar para o corpo. que o corpo chega. mas o espirito continua na mata por mais esse tempo, ate voltar completamente ao corpo. nao sei quando terei quatro luas no mesmo endereco.