Wednesday 19 December 2012

o gato. e o fim do mundo num saco de lixo preto.

e de pensar que nada disso poderia existir. um meteoro. uma escada. um ultimo respiro. e pa. a morte esta sempre ao nosso lado. se um mundo acabar depois de amanha. fim. se nao acabar depois de amanha. ja acabou um pouco hoje. ja mudou. um dia da minha vida ja esta prestes a morrer. e nos nem nos damos conta da preciosidade daquilo que estamos tendo. dos tempos. das frases. dos apelos da vida. e se eu tivesse morrido ontem. ou, se voce tivesse morrido ontem. tantas coisas que ainda eu poderia ter dito. ou feito. tantas coisas que nao fazemos. por nao lembrarmos que a vida esta acabando. agora. e nao lembramos que nada existia antes de existir. antes da primeira arvore. do primeiro suspiro. das primeiras palavras que resolvemos trocar um dia. antes do primeiro passo. ou daquele passo que deixamos de dar. do medo de nao dar certo. do medo do inesperado possivel. antes de qualquer historia começar, ela podia nem ter começado a existir. seria melhor? seria pior? seira outra historia. e daquilo tudo que temos amor. quanto vale nosso orgulho? o gatinho do vinicius morreu atropelado na rua de sua casa. e um milesimo de segundo antes, ele ainda estava vivo. nao vimos o corpo. so ouvimos historias. soubemos de seu corpinho encontrado pelo varredor, jogado dentro de uma saco de lixo. poderia ser eu. poderia ser voce. serei eu um dia. e voce noutro. velamos os corpos. nao celebramos a vida tanto assim. e antes de tudo começar, tudo estava parado. sem tempo. sem espaço. sem nos. e depois do corpo sumir, todo o resto continuou. quase igual. quase. quase tudo. a dor da saudade daqueles minutos antes do gatinho escapar pela fresta do portao. ainda poderimos ter olhado seus olhos verdes arregalados, pela ultima vez. ou antes disso, por onde mesmo esteve o gatinho? paramos de ve-lo ha quanto tempo mesmo? e achamos que ele sempre estaria ali. seus pelos pela casa, ainda aparecerão na escova da vassoura por semanas. se, ainda tivessemos feito alguma coisa, tres minutos antes, ele nao teria escapado. ou se tivessemos percebido que algo poderia, de fato, acontecer, teriamos feito tudo de outra maneira. ou acreditamos que teriamos. ou tentariamos fazer. sera? nao nos importariamos tanto com a limpeza dos sofas. nao o fariamos correr de medo do aspirador. ou da solidão. antes de tudo existir, nao existia aquela historia. aquela casa. nossos moveis. nossos sonhos. poderiamos nunca ter passado por este quarteirao. nem nunca te-lo visto na gaiolinha de adoção. se nunca tivessemos pegado o gatinho, ele talvez nunca tivesse existido. ele teria outro nome. outro dono. outra historia. talvez ele vivesse mais. talvez nao tivesse sido castrado e tivesse tido filhotinhos. ou talvez morasse num apartamento qualquer da cidade, isolado de tudo isso. o gatinho veio, numa tarde de verao. tao pequenininho. ele veio cheio de sorrisos nossos. quando ainda acreditavamos que isso tudo seria possivel. e talvez ainda seria possivel. e talvez ainda seja possivel.  talvez a vida esteja aqui, do lado de cá. talvez ainda haja vida. e talvez ela nao esteja dentro de um saco preto de lixo. talvez ainda possamos fazer tudo diferente. e tudo novo. de um novo jeito impossivel. talvez possamos criar uma nova vida. se tivessemos pensado nisso tudo, ha uma semana atras, hoje talvez estivessemos aqui fazendo isso. se eu soubesse que voce poderia nao estar aqui nunca mais. talvez eu corresse mais um pouco. se eu soubesse que voce nunca poderia ter cruzado a minha porta, eu faria algo diferente agora? talvez eu pudesse nunca ter estado aqui. e talvez voce poderia nunca ter vindo. mas agora estou aqui. e ainda estou viva. se o mundo acabar depois de amanha. ou se ele nao acabar nunca. isso vai ter sido isso. ou aquilo. o que é mesmo essencial? no final, talvez ainda possamos viver ate o final chegar.

Sunday 9 December 2012

searching soul



num quartinho de um hotel numa cidadezinha no meio de minas. e nao sei onde estou. nao vi o nome. nao sei se faz diferenca. e tenho um prazer nao tao secreto em nao saber. nao sei a estrada que peguei. e nem pra onde vou amanha. passaram-se poucos dias. dias pareceram anos. numa casinha de porta e janela azul. criancas. vaga-lumes. estrelas. e longos dias respirando perto do riacho. um ano. talvez mais. e da ultima vez ainda era inverno. na holanda uma tempestade de neve esta prevista para este domingo. e eu meio do verao. no meio de algum lugar de minas gerais. em tantos anos, poucos emails. poucos sinais do futuro. poucos contatos do passado. o que existe sem voce estar? duas pessoas distantes escrevem dizendo que sonharam comigo. andei passeando? os sonhos estao cada vez mais intensos. e a realidade cada vez mais onirica. na cidade de sao paulo, pessoas devem estar fazendo compras. e visitando a decoracao de natal da avenida paulista. em abadia, tem muita gente que nunca viu um predio. e a rotina do bar da geralda parece que nao vai mudar por causa de nada nesse mundo. parece que ali vai sempre aquela calmaria. na frente de uma igreja que so funciona no primeiro domingo do mes. assisti uma missa. e no meio da missa tem uma hora que o script era abracar todo mundo. e eu abracei. e fui abracada. se eu tivesse la no proximo primeiro domingo, iria de novo, so para poder abracar. no fundo da igreja tem uma sala de promessas. e no banheiro da igreja tem cascas de jabuticaba deixadas pelos morcegos. no meio da noite, vi uma taturana enorme. no meio do dia, um sapo giganesco. e uma cobra de dois metros. enquanto isso, tanta coisa acoteceu fora de la. e tanta coisa aconteceu dentro de mim. o que eh mesmo essencial? as frutas do quintal. os restos de lixo organico para as galinhas. o resto de comida para o cachorros da vila. depois, os ovos da galinha, feitos com o resto do lixo organico. e bolos e paezinhos trazidos pela vizinhanca, feitos com os ovos das galinhas do quintal. o que eh essencial? em abadia nao tem telefone. ninguem tem email. fui pedir autorizacao de imagem para as familias, e os pais nao lembravam as datas de nascimento de seus filhos. rg, nenhuma crianca tinha. algumas, nem pais tinham. mas eles sabiam fazer carrinhos de madeira. e a gente eh sabida que nao tem medo da vida. nao tem medo de cobra. de aranha. de gente. mas tem medo de assombracao. ninguem tem muito nome. nem idade. as familias estao espalhadas por ai. tem crianca que cresce. tem crianca que morre. tem crianca que vira homem e vai logo para o bar. tem menina que vai casar. e tem gente que vai sair dali para nunca mais voltar. meu endereco continua sem ser. meu coracao procurando um lugar pra morar. o amor eu nao sei direito. nao sei de datas. de tempo. nao sei muito de nada. fora do lugar, nao ha lugar. longe de tudo, so ha o que ha. estou aqui, com a mesma calca marrom. a cor da pele mudou. o cabelo encaracolou. talvez tenha sido o shapoo para cabelos secos que minha mae me deu. nao tenho cabelo seco. tenho? sei la. tenho esse corpo que se move. e um espirito que passeia. connheci esse dias uma menina que me contou uma historia que nao sei se eh uma lenda ou se eh verdade. mas ela me disse que o indio sai para cacar. e quando volta, a tribo deixa ele descansando por quatro luas. que eh o tempo que o espirito demora para voltar para o corpo. que o corpo chega. mas o espirito continua na mata por mais esse tempo, ate voltar completamente ao corpo. nao sei quando terei quatro luas no mesmo endereco.

Tuesday 27 November 2012

que time é teu?

a finalista do miss bumbum sai nesta sexta-feira
quem concorreu?
dezessete bumbuns
cinco mulheres
e dois vaidosos
rinocerontes
azuis
vieram de toda parte
quicando
uma bunda atras
da outra
bundas que sonham
o estrelato
jurados que juram-se
entender do assunto
dancarinos de lambada
mulheres com nomes de frutas
metaforas baratas
baratas antenadas
vigiarao o evento
sobrevoarao o espaco
nao ha regras
nem medo
mas havera polpa
e talvez
peidos
acontecera
dia trinta
de novembro
onde
nao sei
mas estamos
sem duvidas
torcendo
para
que venca
a melhor

era filho de uma beterraba gigante com uma borboleta macho

qual seu nome?
estou ha uma hora da cidade em que meu pai nasceu.
e tambem onde nasceu meu avo.
e minha tia.
aparecida.
fernanda.
apareça.
fernandes.
tres. quatro. cinco.
nomes.
o que sobre mim eu ainda nao sei.
o que sobre os lugares eu ainda nao sei.
por onde andava voce antes de chegar ate mim?
pai?
mae?
semem.
ovulo.
eu.
vale do paraiba.
vale do jequitinhonha.
eu.
alma.
espirito.
perispirito.
cosmos.
as pessoas parecem familiares.
gosto da padaria.
palavras terminadas em eme.
pocadim.
punhadim.
beijim.
o que seu nome esta falando?
universo.
microbim invisivel em cima da mesa.
da onde voce veio?
lugar.
semem.
ovulo.
fruto.
onde mora a serpente?
proton.
eletron.
neutron.
a fauna eh cheia de passaros. ate tucano ouvir dizer que tinha.
guimaraes.
monteiro.
clarisse.
hilda.
neutrinos.
semem.
ovulo.
taxi!
vem me buscar?
galinha.
ovo.
pintinho.
galinha.
onde fica a rodoviaria?
onde fica o galo?
chegaremos antes das tres.
oxitonas.
paroxitonas.
proparoxitonas.
pede pra parar na placa.
pede pra parar na estrada.
fu xi ca bum
fu xi ca bum
isso foi o telefone?
exercicio vocal
xxxxxx
ssssssss
zzzzzzz
aaaaaaaaaaaaaa
o fim do mundo.
gritou de prazer no meio da noite.
aaaaaaaaaaaaaa
que foi?
ta crescendo!
nove meses.
ta nascendo!
nove meses.
ta voando!
o que eh isso?
donato quintino junior eh seu nome.
nao parece comigo.
nem com a tia marlene.
eh rosa demais.
e peludo demais.
alto demais.
mas todas as meninas do colegio
apaixonaram-se pelo seu sabor.
pois eh carlinhos,
hoje os tempos sao outros.
e diziam que a ciencia ia parar nas ovelhas bivoltz...

tres e trinta despedidas da tarde ainda ou quem era eu hoje de manha mesmo?

o dia começou um pouco antes de eu descer o elevador. primeira despedida. saio do ap 66 da santo amaro. conheco ali na porta, o luciano, motorista que me esperava num carro branco. o luciano eh da paraiba e mora em sao paulo ha dezessete anos. gosta de sao paulo mas reclama o transito. diz que hoje em dia, ja nao vale mais a pena vir pra ca. que na paraiba tem mais qualidade de vida. mas ja se acostumou. tem duas filhas, uma de nove. e uma de cinco. a de nove gosta de ir na escola. a de cinco nao. falamos sobre o governo. as esperancas. ele me diz que hoje em dia rico fica com raiva porque pobre vai a universidade. rico fica com raiva porque pobre agora consegue os empregos que antes eles conseguiam. porque pobre estuda. e rico nao. pobre sabe fazer. e rico nao. ai os ricos ficam bravos. nos despedimos na porta do aeroporto. foi bom te conhecer luciano. tchau luciano. tomo um cafe. e pao de queijo. pao de queijo custa quatro reais na casa do pao de queijo. o pao de queijo mais caro do mundo. e eu sei. eu sei que as coisas sao caras. mas porra, quatro reais? tudo bem, quer pao de queijo, tem de pagar. despacho as malas. depois outra despedida. beijo mae te amo. passo para a sala de embarque. uma moca mexe na sandalia. um moco me avisa que deixei cair o fone do telefone. espero. chamam. me arrasto. entro na nave com sono. ar condicionado sempre me faz tremer. esqueci as meias. lide com o desconforto. sobe. broa. pao com polenginho. e uma dose de cafe. desce. desaperta o cinto. sai. desce. outra sala cheia de bancos. o sotaque mudou. onde eh que estamos mesmo? espera. atrasou. espera. chegou. sai. sobe. aperta o cinto. sobe. broa. pao com polenguinho. uma dose de cafe. desce. que sono. sai. pega sua casa nas costas. quanto custa a carona? muito caro. espero. quanto voce quer pagar? vinte e cinco. vale o descanso. me leva moco. entro. converso sobre a cidade. o estado. o queijo. e o tutu. chegamos. pago. desco. tchau moco. entro. paro. a moca me olha. toma meu cartao. assino papeis. ela me da um cartao que eh a chave. tchau moca.  primeiro andar. subo. deixo a mochila. faco xixi. pego o cartao. fecho a porta. entro no elevador. desco. atravesso a porta. atravesso a faixa de pedestres. pego o prato. arroz. feijao. me salvem. mastigo. engulo. saio. vejo broas. biscoitinhos de polvilho de varios tamanhos e texturas. converso com a menina do cafe que me conta que estuda enfermagem e que o pai mora em osasco. ela me pergunta da onde eu sou. se eu soubesse moca. tchau. outra moca. mousse de chocolate. cartao. tchau moca. atravesso a faixa. entro. subo. cartao. entro. fecho. tiro tudo. banho. enxugo. ponho tudo. pego a bolsa listrada. abro a porta. fecho. entro no elevador. desco. saio. desco as escadas. passo o estacionamento. entro no shopping. onde fica o banco? ali, do lado do cafe moca. brigada. tchau. entro. cartao. dentro. fora. pego o troco. decido comprar um par extra de chinelos. rosa. pink. a moca do caixa passa. debito ou credito? debito. ela me olha. voce sabe que o debito o dinheiro sai na hora da sua conta neh? sorrio por dentro. sei sim. entao ta, eh que as vezes confunde ela responde com duvida. sua senha. chinelo no bolso. tchau moca. atravesso o estacionamento. subo escadas. entro. subo. cartao. abro. fecho. sento. escrevo esse texto. ouço eu mesma. canso. a geladeira ronca. onde estamos? preciso de descanso. tchau moca. bons sonhos. que saudade.

Sunday 25 November 2012

boiando

tres horas pra frente. tres horas pra tras. nove horas. vinte e quatro. dezesseis. o relogio foi pra la. a velhinha de taubate, era aquela que acreditava no brasil. e a gente citou o verissimo outro dia. na sexta, o velho falou do pessoa. fernando. fernanda. nanda. por onde voce anda? nada nao. e dai vem todo tido de finalizacao. de frases. e conceitos. e as pessoas querem te dizer o que voce eh. e o que faz. e porque desistiu de alguma coisa que voce nem pensou em desistir. e tinha uma praia. e os indianos tocando uma musiquinhas. eu sentei. e depois veio a amanda matando uma barata com o spray. isso foi ontem ou anteontem? nao foi. era tudo a sua imaginaçao. um sonho. a praia. o vento. o chuvisco. a garoa. estas sereno? nublou. e quando for verao? depende da onde estiver a primavera. e de que lado voce esta. mas voce faz o que? quer saber se eu sirvo pra voce? eu nao sirvo pra nada. eu nao sou daqui. e nem voce. a planta cresce. a planta murcha. eu nao tenho certeza do que estou falando. so estou falando porque eh como os humanos fazem para se comunicar. ou nao eh? eu escrevo. tem essa coisa da linguagem que as vezes eh util, as vezes eh falha. eu participo da subjetvidade do objeto concreto subjetivo do observado inerente ao piano dodecaedro. nao sei falar dificil.  que complexo. nem falar eu sei se sei. nao sei se gosto disso. prefiro nao julgar o prefixo. se pensar naquilo que gosto, entro em contradicao. melhor apreciar o doce de feijao. o dia vai acabar mesmo se eu lutar contra a noite. e todo o resto tambem nao deixa de ser pre-texto. a direita e a esquerda. a esquerda em ingles eh a deixada. left. eu uso as duas para nao desconsiderar nenhuma possibilidade. e eu so tenho duas maos mesmo. nao eh muita coisa. esse corpinho limitado. mas pensa na cobra entao. nem braco ela tem. e mesmo assim se vira. e assusta. alguem ja viu um elefante se assustar com uma formiga? e tem os patinhos. que flutuam. andam. voam. e tem amigos. os patinhos parecem ter uma vida bem boa. eu acho que gostaria de ser um patinho. 

Thursday 22 November 2012

aaaa

e a realidade eh uma coisa que me assusta. porque nao acredito nela. porque acredito nela. porque nao sei o que eh de fato. se isso eh um sonho, de quem eh o sonho? se eu to nesse sonho, porque estou nesse sonho? se isso eh a realidade, qual o sentido dela? e da onde vem a essencia das coisas que vemos e sentimos e falamos e achamos que sao reais? e porque pensamos? e porque alguns conseguem tocar instrumentos musicais? ou pensar na construcao de instrumentos musicais? ou pensar no processo de refinamento e uso do petroleo? da onde vem as ideias? porque as cores estao distribuidas assim? quem criou a harmonia? e quem desenhou as asas da borboleta? se tudo eh acaso, o acaso eh tao perfeito que eu desconfio. se tudo foi feito, quem fez isso? nao experienciamos nada repetido? ou tudo ja foi pre-determinado? existe destino? ou nao existe nada? o que eh o acaso? numa mesma sala na mesma hora e no mesmo local, o que cada um ve e sente e experienicia, eh unico, individual. a famosa relatividade, relativisa tudo. se nada eh concreto. o que eh concreto? se tudo eh abstrato, porque achamos que eh concreto? e da onde vem as crencas? se eu descontruir o que acreito ser realidade, o que resta? se eu fechar os olhos, continuo na mesma dimensao? se eu nao acreditar em nada, tudo para de existir? entao o sonho eh meu? ou o sonho eh seu? essa noite sonhei de novo com o fim do mundo. e as outras luas. e um cais. o ceu ia se abrindo. e a agua ia subindo. e eu tentava encontrar o caminho de casa. morrer da medo porque dissolvida eu nao consigo me mexer tao bem quanto aqui. entao esse apego eh a vontade de controlar pelo menos meu corpo? e quem sao voces entao? ou, quem somos nos? e quando saberemos a verdade? existe verdade? eu existo? voce existe? o que eh existir?

Tuesday 20 November 2012

Monday 12 November 2012

imagina passar a vida sem perceber essas coisas maravilhosas que os deuses disfarcam de bege no meio das vitrines?

tem coisa que a gente demora pra descobrir. mas que bom que descobre. porque tem coisa que voce nem sabia que existia. e depois que conhece, tudo muda pra sempre. semana passada, eu descobri o croquete vegetariano. e ele esteve ali este tempo todo. e eu nem sabia que existia croquete vegetariano. eu queria muito mesmo poder comer uma cesta enorme desses croquetes com cada um de voces nesta noite de novembro.
grande beijo.
da tia margot & convidados

tava pensando hoje

eh realmente muito feio criticar uma pessoa por seus gostos.

Sunday 11 November 2012

obrigada deus

pelo feijao
temperadinho

o fetiche da beth

quando sai com aquele menino intelectual estudante de cinema da eca nao deu muito certo. tentei. mas nao consegui acompanhar o ritmo de palavras dificeis que este cla domina tao bem. e tentava manter conversas sobre apreciacao de cinema europeu nordico em preto e branco dos anos trinta. mas pior que nao conseguia. porque com toda a beleza da poesia e toda essa formacao em arte educacao e a coisa toda. tem a simplicidade de tudo. tem coisa que voce gosta. e tem coisa que voce nao gosta. tem hora que voce ta com saco. e tem hora que nao. era um trauma que vinha desde a epoca das bandas dos anos noventa. quando a gente sofria por nao conseguir desenvolver um gosto musical muito aprovado pelos descolados. mas afinal, porque a gente precisa gostar disso? mas a gente se esforcava. e dava para impressionar ate a pagina tres quando alguem chegava e perguntava que tipo de som voce gosta. hummm. e ate hoje tem gente que diz. de tudo, menos pagode e sertaneja. de tudo, menos pagode e sertaneja. ok. os poetas nao funcionaram muito tambem. e tudo tem seu potencial. mas o foda eh que teve aquele ator que falou que transava declamando shakespeare e aquilo nao pareceu muito atraente. voce compra langerie para seduzir o seu marido? o seu marido fica seduzido com a langerie? brinquedinhos eroticos sao vendidos por toda a cidade. qual o seu fetiche? duas pessoas que nao gosto muito sao a penelope nova falando merda sobre sexo. e a mariana ximenes. minhas calcinhas sao todas pretas e iguais. e minhas meias sao todas coloridas e diferentes. o matheus diz que gosto de meninos inteligentes. hoje durante o banho decidi que vou ser cantora.

Saturday 3 November 2012

sentindo

exteriorizacao pensamentos [telepatia]
intuicao
pensamento
visao
audicao
fala
olfato
paladar
tato
sentimento [capacidade de sentir emocoes]
energia [sentido relacionado a capacidade de funcionamento do organismo - geracao de energia - equilibrio].
levitacao [capacidade de consciencia corporal interior e exterior - manipulacao de energia - alteracao do estado "fisico" do "corpo"].
teletransporte - seria, aparentemente, pela logica, o proximo. mas talvez o teletransporte tenha a ver com o proximo salto (ou desdobramento?). que seria talvez o comeco de um novo ciclo em outra dimensao. ou em outro estado....nao sei ainda

Friday 2 November 2012

filologia de deus

hoje eh dia de finados. eu nao entendia dia de finados quando eu era crianca. eu entendia dia definados. o que eh dia definados? eh o dia dos mortos. e eu pensei por um tempo que definados era a palavra que se usava para dizer dos mortos. que poderia ate ser. porque tem aquela outra palavra definhar. que vem de final tambem. e as palavras tem essa coisa de serem uns pedacos de algumas coisas que as pessoas daquela epoca decidiram que ia ser. e cada palavra tem um som porque aconteceu assim. e depois pensaram sobre isso. e acho bem foda pensar que pensaram em registrar cada palavrinha que a gente usa aqui hoje em dia. e pensaram nas qualidades das palavras. e na ordem que seriam usadas. e tudo tinha um porque. e porques tinham quatro tipos na lingua portuguesa. que eu sempre pesquiso. e sempre esqueco qual eh pra que. mas a gente chuta. e acerta o suficiente para nao incomodar a ideia da coisa. ouvi dizer que a lingua portuguesa eh uma variacao do espanol gaelico. considerado tambem uma versao popular, vulgar desta variacao. a lingua portuguesa teve influencia romana. e celtica. na sua origem. fora outras muitas coisas. e tem os portugues do brasil. que depois de toda a miscelania do latin na europa, ainda misturou com os dialetos indigenas. e os dos africanos. e os dos imigrantes todos. e de todas as geracoes que misturaram mais. e adaptaram. e criaram. e usaram girias. que viraram conceitos. e que agora ja sao outras coisas. alguma coisa se perdeu. algumas palavras sao mortas. algumas palavras pra falar da morte estao mortas tambem. nao sei por quanto tempo falaremos dia de finados. talvez vire so dia dos mortos. e talvez nem o dia seja comemorado mais daqui um tempo. talvez nao morramos mais daqui um tempo. mas talvez as palavras perdidas sejam encontradas nos mesmo lugar que os espiritos desencarnados ficam entre a morte e a proxima vida. minha mae diz que a gente morre e vai para uma outra dimensao onde tudo eh mais ou menos parecido com aqui. ela disse que varia, mas que cada morte dura mais ou menos cinquenta anos. e que tem outros mundos tambem. tem muitos mundos. tem muita coisa, qua a gente ainda nao tem condicao de entender minha filha, ela diz. e eu nao duvido. mas tambem nao sei. perguntei pra ela sobre deus. e ela falou que deus eh uma coisa so. e eu perguntei se deus era um cara. e dai ela falou que ela nao sabe. que ela nao tem condicoes de saber porque eh muito maior. e eu perguntei mas ele criou tudo. e ela disse que sim. sozinho? eh. mas deus nao tinha nenhum amiguinho pra ajudar ele a criar o mundo? e ela disse que nao. e eu perguntei como eh deus entao. e ela disse que nao sabe. que eh uma energia. que criou isso tudo. mas perai, ele eh um ser inteligente que criou tudo. ou ele eh energia, e tudo aconteceu meio que por acaso? porque ai sao duas coisas diferentes. eu nao sei filha. minha cabeca ainda nao tem condicoes de compreentender isso tudo agora. temos a limitacao fisica. entao eu aceito. mas como voce aceita sem saber tudo? eu sinto. e dai ela sente. entao, eu que nao sinto desse jeito, que me vire para achar mais respostas. ou esperar ate morrer. e ir para esse outro lugar. onde minha mae possivelmente vai estar me esperando com a mesma tranquilidade de agora. tavez rindo da minha cara por ter esperado tudo isso aqui da vida pra acreditar no que ela ja sabia. e se pa ela sabe mesmo. eu nao sei. mas tomara que seja mais surpreendente do que encontrar alguem tipo o steve jobs. e descobrir que deus era um programador. e que a gente eh tipo o super mario auto-suficiente vivendo nesse mundinho que a gente acha que eh real.

mil e novecentos sereias felizes

acordo cedo sem razao. oito da manha. faz frio. aqui o teto eh de madeira e os gatos passeiam pelo telhado. a chuva cai. as folhas ficam batendo na calha. os tios da padaria da esquina ja estao no corre desde as cinco. tem gente que acorda cedo a vida inteira. tem gente que acorda cedo para ficar na fila do posto de saude. e tem gente que acampa na frente do estadio para ver show de musica. e la na augusta, sempre tem os fas dos rebeldes fazendo fila, eu nao sei pra que. e tem o bira, porteiro do meu predio. que entra as sete no trampo todos os dias. e depois ele vai para um outro trampo, e fica la ate as dez. o bira eh foda. e tem o elizael, que tambem eh porteiro. mas o elizael alem de ser porteiro, tambem carrega o lixo do predio todo pra baixo. e ele nao pode pegar o elevador com o lixo na mao para nao sujar o elevador. o que eu acho bem absurdo. e entao o elizael faz o sobe e desce de escada com o lixo do predio inteiro. e depois escova o chao. e limpa os vidros da frente. o elizael tem dois filhos ja. e agora a esposa esta gravida de gemeos. e ele nao vai poder parar. tem gente que eh muito forte. tem a tia ditinha, que era minha vizinha. a tia ditinha era faxineira. e trabalhou a vida inteira para a mesma familia. sustentando suas duas filhas e um marido violento, que nunca trabalhou. e tem a fabiana, que eh filha da tia ditinha, que eh minha amiga. a fabiana era dessas criancas que sempre foi precoce. ela era fa do grupo domino. e tinha uns cartazes dos dominos  no quarto dela. eu sou quatro anos mais nova que a fabiana. e eu nao entendia porque ela tinha fotos de uns caras da tv pregadas no quarto dela.ai uma vez eu perguntei. e ela falou que eles eram um tesao. e eu nao entendi o que tesao significava. e ela me falou, eh um te grandao. e eu continuei sem entender. e ela riu com a irma dela. a fabiana foi a primeira amiga minha a pintar o cabelo. acho que ela devia ter uns doze anos quando apareceu com o cabelo amarelo na porta de casa. e dois anos depois, a fabiana apareceu com a barriga grande na porta de casa. a fabiana casou nova. e teve mais dois filhos. e agora o filho da fabiana vai ter um filho tambem. meu primeiro namorado chamava-se cleverson. e se eu tivesse engravidado do cleverson, a gente teria um filho de dezesseis anos agora. e como teriam sido todos esses anos de la pra ca, eu nao sei. eu achei que ia casar com o lucas quando ele me deu uma fita k7 escrito te amo pra sempre. a fita comecava com every breath you take e terminava com a celine dion cantando because you loved me. ontem eu vi uma entrevista do renato russo no jo soares de quando eles lancaram o descobrimento do brasil. e lembrei de quando o lucas juntou a mesada da vida toda pra comprar a colecao de cds do legiao que tavam em promocao por dez reais cada nas lojas americanas. e depois foram os beatles. e foi o lucas quem me falou pela primeira vez as conspiracoes sobre a morte do paul mccartney. a gente passou a madrugada tentando escutar os discos de vinil ao contrario naquela noite...

  
 
 

Thursday 1 November 2012

especial de fim de ano

tem musica que realmente parece transformar o estado fisico das coisas. e tem musica que arrepia. e tem musica que engana. tem musica que faz voce sentir o que voce nao sente. e tem musica que da vontade de sentir aquilo que nao se sente. tem musica que quando voce ouve no inverno voce acha que o mundo vai acabar. as ilusoes cotidianas. revelamos fotografias.  escondemos segredos. eu nao sei o que vai acontecer com a gente. e dai a musica que continua tocando me traz umas lembrancas. e as imagens. e sons. e perfumes.  te reconheco de longe. e nossos playlists de agora, serao nostalgia no futuro. onde estaremos nos, em dois mil e dezoito? eu fico pensando em todos os experimentos e descobertas que revolucionaram a humanidade. quando aquilo tudo que eles acreditavam antes, ja nao fazia mais sentido nenhum. o que nao fara mais sentido algum, em dois mil e dezoito? e o que fara sentido? talvez a gente esqueca. talvez nao. pudim. chiclets. pasta de dente. ainda usaremos shampoo? os indios kaiowa, sobreviverao? o torrent, sobrevivera? e o roberto?



 

balancando

o foda eh que quando nao estou
nem sentindo
nem praticando
me distraio e deixo
minha cabeca
pensar sobre sentimentos
e sobre praticas
e as vezes na distracao
meu coracao acha que pode pensar
e esquece de sentir
e minhas praticas esquecem de agir
e comecam a achar
que podem virar habitos
meu deus
me ajude a me lembrar
que eu nao sei de nada muito
e que vou morrer a qualquer momento
para eu nao me iludir
com pensamentos
esquecendo
que minhas acoes
sao limitadas
e meu coracao
eh delicado.
 

Tuesday 30 October 2012

e o sergio malandro de sobremesa

sol. arvore. lagoa. planta. amor. azul.

salve-se

o furacao passou. o fim do mundo esta proximo. na pagina da rede social, todo tipo de preocupacao. tem um cara que eu nao sei quem eh que eu tenho como amigo, que fica postando fotos de motos limpas. e coisas assim. ok. tem gente que nao come para comprar uma moto. e dai tem o furacao. que quando passa, nos, pessoinhas, nao nos conformamos. nao que nao seja triste. mas nao que nao seja possivel tambem. ou provavel. acreditamos tanto na historinha da estabilidade, que nos ofendemos com as mudancas climaticas. e antes de ontem o site estava divulgando um seguro contra chuva no seu holiday. talvez seja uma boa neh. pagar para ter o seguro. para poder receber o diheiro de volta, caso a chuva caia. afinal somos escravos. e nossos donos so nos deixam passear uma vez por ano. entao melhor garantir o invetsimento. e esse negocio de seguro foi um negocio mesmo esperto. criam uma realidade falsa. e depois nos desesperam com a realidade real. e depois cobram pela nossa frustracao com a realidade natural. nos aprisionam. e nos dao a garantia de um mes de descanso no ano. e dai pagamos para nos prevenir da chuva. nos convencem a comprar de tudo. nos acreditamos. e depois, pagamos seguro ante-roubo. e tem a historia das mulheres que fazem seguro de bunda. porque a bunda cai. porque as coisas mudam. porque a chuva cai. porque o furacao passa. reclamamos da chuva. do frio. do calor. e queremos garantias que o clima estara de acordo nosso gosto. mesmo nao gostando de quase nenhum clima. porque somos clientes. e pagamos caro para viver na terra. daqui a pouco, vao lancar o seguro-proxima-vida. se voce nao viveu nessa. use o seguro para comprar sua casa propria na proxima vida. ja deixe isso garantido. porque nunca se sabe o dia de amanha. enfim. recebo emails sobre o fim do mundo. e o que vai acontecer dia vinte e um de dezembro ninguem sabe. simplesmente porque ainda nao estamos la. e o dia sera cheio de eventos no mundo inteiro. porque todos os dias ou o que consideramos e chamamos de dia, sao cheios de eventos. queira voce. ou nao. entao nao sabemos o que vai acontecer no dia vinte e um de dezembro. nao sabemos se vai seguir como achamos que todos seguem. ou se sera mesmo,  o ultimo dia dos restos de nossas vidas. dessas vidas. nao sabemos. a princesa do japao, veio a publico falar a respeito. e o xama do interior de sao paulo, esta reunindo uma galera para ver tudo que vai acontecer. e se nao acontecer nada, o que ele vai fazer? e se acontecer tudo que ele esta falando que vai acontecer, o que nos, vamos fazer? nada provavelmente. tomar uma breja. dar um abraco em quem estiver por perto. e chorar. e gritar. ou cantar. ou dar risada. nao da pra saber, o fim do mundo ainda eh uma experiencia nova, que guarda sua proprias reacoes ainda sem referencias na experiencia contemporanea.  ai, tem gente mais mistica. ou mais informada. ou menos informada. que esta comprando imoveis debaixo do chao pra garantir. nao se ei eh verdade. mas nao duvido. tem gente que diz que eh certo. tem gente que diz que nao. tem gente que diz que um planeta vai entrar em colapso com a terra. e tem gente que diz, que vamos mudar a faixa vibracional da terra e vamos saber todas as verdades do mundo. e tem gente que diz que a mudanca de eixo de rotacao da terra nao eh nada demais. e tem gente que diz eh que o fim de uma era. e o comeco de outra. e tem gente que diz que havera uma revolucao alienigena. e tem gente que diz, que havera uma revolucao do pensamento. e tem gente que diz que quem vai inventar essa historia de et sao os americanos, e seus interesses economicos. e tem gente que diz que eh tudo magia. e tem gente que nem sabe dessa historia de fim do mundo, e ta pagando as prestacoes do bau da felicidade. eu nao sei o que esta acontecendo. eu nao sei o que vai acontecer. agora sao ainda onze e quarenta e quatro da manha. dia trinta de outubro. ainda temos mais um mes e uns vinte e dois dias. na duvida, vou escovar os dentes.

Saturday 27 October 2012

conversa com minha mae

- o foda eh que os homens nao sabem direito o que fazer com as mulheres hoje em dia.
 
- eh. porque antes o homem tinha que cacar. e a mulher ficava em casa, cuidando da casa. vai ver a mulher sempre teve que pensar mais. porque ela tinha que organizar a casa. e preparar a comida. e cuidar dos filhos. e o homem tinha que cacar. mas era a mulher que tinha que ser criativa para deixar a caca gostosa. agora o homem nao precisa mais cacar. a mulher sai e vai no supermercado.

Friday 26 October 2012

fora de area

a madrugada chega ao meio. passou as ultimas doze horas entre o teclado a cozinha e o banheiro. seguiu um coelho. caiu numa sala que nao sabia se era grande ou pequena. nao sabia se ela era grande ou pequena. ela chora e nada em suas lagrimas. um e sessenta. um e cinquenta e oito. quarenta e seis quilos. encaixa em quase qualquer canto sem incomodar. nao cabe nesta carcaca. objeto tridimensional. textura macia. sem pelos. e cheiro de perfume rosa. so que num mundo onde os espelhos sao avessos, contrataram-na para carregar as pedras das piramides do egito. no meio do caminho, resolveu fugir para santiago de compostela. chegou so. os homens da cidade interessaram-se pela jovem donzela desprotegida. fizeram um leilao. mas a menina nao queria ser leiloada. deixou o caminho e seguiu pela floresta. depois encontrou um exercito, que a confundiu com o inimigo. e sozinha, teve de lutar contra mais de duzentos soldados. exausta, seguiu o caminho com fome e com frio.  chegou numa terra de anoes. e acharam que ela era um gigante. ela nao queria ser gigante. entao seguiu seu caminho. e chegou numa terra de gigantes. e la acharam que ela era uma ana. e ela nao queria ser ana. entao seguiu seu caminho. e chegou a um vilarejo onde todas as pessoas falavam um estranho idioma. so que ela nao entendia aquele idioma. entao acharam que ela nao era deste planeta. e atacaram a menina. pequena, seguiu sua jornada. encontrou entao, um principe. e ela achou que o principe a salvaria. so que o principe estava ocupado com outra coisa. e ela teve de seguir sozinha. encontrou na estrada, todo tipo de gente. e acharam que ela todo tipo de coisa. e ela percebeu que ela era aquilo que ela era. e ela era, aquilo que as pessoas achavam que ela era. ela entao deixou que as pessoas achassem o que quisessem. e foi morar nas ilhas samoa.

ticket para plutao

e quem vai querer falar com voce sobre essas coisas? eh como segurar um furacao numa caixinha de fosforos. o problema eh que se abre um pouquinho ja comeca um vendaval. e quem vai querer conversar com voce sebre essas coisas? coloca um pouco em outro lugar. ate sobrar so uma pessoa ai dentro. e dai voce pode comecar a conversa. e pra onde eu mando as conversas que nunca acontecerao? para o espaco. e onde eh que este quem esta? e se nao existir mais ninguem alem de voce? eu nao sei o que fazer. nao tenho como receber entregas. nao sei onde voce esta. eu nao estou mais naquele lugar de antes. eu nao sei onde estou. ninguem aqui fala a minha lingua. onde esta quem vai querer falar com voce sobre isso? quem eh que mora aqui? eu ja disse que nao sei. onde eh que estou? voce chegou aqui sozinha. e onde eu caibo agora? na segunda gaveta, ao lado das colheres.

projecoes

o frio emplacou e agora nao tem o que chorar. dentro de casa. pratos na pia. farelos na mesa. computador meio sujo mas funcionando. preciso limpar o computador de novo. comi gengibre para melhorar a digestao. e um leguminho sem graca vermelho e branco que tambem parece saudavel. e um pudim de leite com chocolate, porque tambem sou filha de deus. ta frio. e nao tem o que fazer. o cinema perdeu o sentido depois dos sites de download e movies online. tem a opcao de sair para um cafe. ou um restaurante. ou um bar. fazer amizade na rua. mas ta frio demais para amizade na rua. e dai tem o pc. e tem as coisas que da pra nao fazer e pra fazer no pc. voce checa o email umas vezes. e o facebook. e manda uns emails. e pensa na vida. e desenha. e olha pra cara do gato. cancelaram o trabalho porque a menininha vai dormir na casa de uma amiguinha. legal, eu tambem preferiria dormir na casa da amiguinha. me esforcei para dar uma volta no quarteirao. a lua ta linda tidedico. algum vizinho ta tocando uma flautinha. ontem ganhei um monte de bobo de camarao de um amigo. antes eu entendia gogo de camarao. mas hoje fui comer o bobo. e os camaroes pareciam bichos demais para serem comidos. deixei o prato de lado com um pouco de culpa. voce pensa nos lactobacilos vivos do yakult? essa imagem sempre me vinha a cabeca. colocam cada coisa na cabeca das criancas. yakult. agua. terra. fogo. ar. ferro. zinco. cobre. passarinhos. montanhas. zebra. eu. voce. o frio. tudo combinacoes atomicas. nao sei se isso vale caso a terra seja um holograma.

fala coracao

isso foi em 1991. comecou no gira-gira do parquinho maior da escola. o gilberto sentou do meu lado. o gira-gira vervelho. e o gilberto chegando. gilberto sentou do meu lado. e comecamos a rodopiar. gilberto era loiro. cabelo quase respado. olho preto. e oculos grande preto. ou pelo menos eh assim que eu me lembro dele. gilberto era amavel. e gostava de mim. gilberto gostava de mim. e me seguia no recreio. e eu gostava do gilberto. mas nao sabia se gostava dele me seguindo no recreio. eu secretamente gostava. mas parecia um conflito social expor aquela historia ali no meio da escola. tinha alguma coisa subjetiva na minha cultura, que me fazia sentir vergonha daquele amor. e tinha alguma outra coisa subjetiva na minha cultura, que me dizia que eu deveria me constranger com aquela situacao. comecei entao, a evitar o gilberto. e ele vinha falar comigo. e eu saia de perto. querendo ficar. saia de perto. e depois ele saia de perto. e nao falei mais com o gilberto. e eu vi o gilberto sofrer a minha rejeicao na minha frente.  e eu ri do gilberto. e ele chorou. e entao. eu maltratei o gilberto. e fiz a classe inteira maltratar o gilberto. eu fui muito ma mesmo. e nao sei porque fui ma. secretamente, sentia falta do gilberto quando ele nao vinha na aula. e, secretamente, esperava encontra-lo por acaso numa festa inesperada fora dali. mas na escola, eu nao sabia porque, eu nao podia ceder. amei o gilberto, secretamente, por um ano pelo menos. em 1992, o ano letivo comecou na quarta-serie. o gilberto nao apareceu na sala. meu coracao doeu. ninguem sabia do gilberto. e ninguem pareceu importar-se com a ausencia dele no espaco. eu sofri. ninguem mais falou do gilberto. eu sofri, sem entender direito, sem entender o porque. e porque eu tinha feito as coisas que eu fiz. senti-me responsavel por sua saida da escola. por algum problema que ele possa ter enfrentado na vida. por conta da minha bobeira. da minha vergonha. do meu desejo de predominar a situacao. eu nao sei se o gilberto saiu da escola por causa disso. ou se ele simplesmente se mudou. eu nao sei se ele sofreu. se ele se sentiu mal. ou quantas vezes ele sentiu-se mal, por conta da minha atitude equivocada. eu tinha nove anos. e a dor nao passou. porque eu nao sei as consequencias que isso teve de verdade na vida dele. eu sei das consequencias que teve na minha. eu senti. no fundo da minha alma. e eu nunca mais vi o gilberto. nunca cruzei com ele na cidade. nem em nenhuma festa juvenil. nao tinha foto do gilberto. e nao tenho ideia de como ele seja hoje em dia. i wonder. o que sera que aconteceu com voce gilberto, depois que voce saiu daquele portao verde de madeira, no ultimo dia de aula, em dezembro? e a gente nem se despediu. deixei a cidade sem saber quem o gilberto era. e senti muito. senti culpa. senti remorso. senti incompreensao. gilberto sofreu por um ano as consequencias daquele meu amor mal resolvido. porque nao deixei o gilberto gostar de mim? nao sei. queria pedir desculpas, gilberto. por mim. pela sociedade. pela falta de compreensao que temos, em nossa cultura, do amor. peco desculpas a voce, por nao ter respeitado seus sentimentos. e nem apreciado sua presenca. espero, sinceramente, que seu coracao de crianca, tenha feito voce esquecer das coisas crueis que a minha pessoa de crianca disse pra voce. eu me arrependi profundamente. e ainda penso em ti com dor. eu nao sei o sobrenome do gilberto. eu nao sei se ele tem facebook. se mora em taubate. em guararema. ou no meio da india. espero que ele esteja feliz.

a fia, fia.

a fia era amiga de uma amiga da minha mae. e quando eu tinha um pouco mais de uma ano de idade a fia veio morar com a gente. ela cuidava de mim de manha, quando a minha mae ia trabalhar. a fia ficou la em casa acho q um ano mais ou menos. e eu nao lembro muitos detalhes porque eu era muito pequena. mas eu lembro bem da fia. e tem algumas fotos que me trazem mais lembrancas que nao sei se sao reais ou nao. mas algumas coisas ficam. a fia era jovem. e a fia era legal. a fia, me levava para passear de vez em quando. e em taubate, em 1983, nao tinha la muita coisa pra fazer. na frente da igreja tinha um parquinho bem dinamico. e dai tinham os supermercados. que desde aquela epoca ja distribuiam cafezinho de graca. nao sei se eh coisa de gente de taubate, mas o povo adora passear no supermercado. minha avo, minha mae, minhas tias, meus vizinhos, todos,  adoram passear no supermercado. e a fia nao era diferente. a fia era amiga da moca do cafezinho do supermercado. e isso eu lembro bem. e nao sei como eu lembro bem. mas eu lembro, que ela me colocava numa bancada do lado da parada do cafezinho. a moca do cafezinho falava com a fia. a fia falava com a moca.  meu copinho ia sendo updated. e eu ficava quietinha. a fia, certamente, nao estava a par das regras de health and safety da inglaterra. na inglaterra, te consideram quase um criminoso se voce da uma barrinha de chocolate para uma crianca. eles tem certeza que acucar deixa criancas doidonas e incontrolaveis. and they don't want that. imagine voce entao o conteudo daquele copinho melado. a fia estaria fodida. foram altas doses de passeios estimulantes no supermercado da cidade. dado momento, minha mae descobriu o feito. mas nao pareceu se importar muito. enquanto isso, meu cerebro ia recebendo altissimas doses de cafeina diariamente. se fosse na inglaterra, eu teria um diagnostico. como era no brasil, eu era uma crianca engracadinha, que gostava de cafe "preto". e isso comecou a virar sensacao. e eu ia na casa das tias, e elas queriam ver eu tomando cafe. eu fazia minha parte. e todo mundo ficava feliz. ano passado eu tava lendo um livro do steiner, falando que o cafe eh bom para quando alguem quer pensar. que cha eh bebida de diplomatas. e cafe, de pensadores. se eu tivesse nascido na inglaterra provavelmente minha baba me daria cha com leite. e tudo seria diferente. mas eu nasci no brasil. e sou o que sou. seja la o que isso for. o que eu sei, eh que minha cabeca nao para de falar ha uns 29 anos. e se pa, foi tudo culpa da amiga da fia.
 

Thursday 25 October 2012

o vento do bafo

quatro e meia da manha aqui
meia noite e meia ai
tres e meia da manha em londres
tres e meia da tarde na nova zelandia
estou sentada na caminha que fica no chao. o aquecedor eletrico solta um bafo que sufoca. parece sauna. mas se desliga, fica frio. eu tenho que sair de casa para fazer xixi. e ta frio la fora. entao seguro o xixi ao maximo. mas as quatro e meia da manha, ja tive de enfrentar o resfriamento pelo menos duas vezes. se eu nunca mais encontrasse ninguem na vida, ficaria sozinha para sempre. da pra desenhar. ler. comer. dormir. andar. fazer quase tudo na solidao. mas eu me questiono que estrutura emocional as pessoas completamente solitarias desenvolvem. a solidao nao eh sofrida. ela eh neutra. ela nao fere. nao confronta. ela segue. segue o basico. passei pela rua de restaurantes e considerei me convidar para um jantar. mas hoje eu nao ia poder porque tava indo para o trabalho. comprei pao de hamburger, salsicha vegetariana e molho de tomate com pimentao. hot-dog. depois nozes cobertas com chocolate para dar energia. durente o babysitting, li um gibi das meninas poderosas sobre uma cidade que era limpa. e os inimigos eram monstros de sujeira. e a docinho nao queria tomar banho. e ela ficou fedida. e a familia expulsou ela de casa porque ela estava fedendo. dai os amigos expulsaram ela da casa deles porque ela estava fedendo. ai a escola evacuou e deixou ela sozinha na escola porque ela tava fedendo. ai ela foi ficar a sos numa montanha. e dai apareceu um monstro. e o monstro nao quis lutar com ela, porque ela tava fedendo. e dai ela resolveu tomar banho. e dai durante o banho ela disse que so estava tomando banho para ficar limpa para lutar de novo com o monstro. e dai a amiga superpoderosa loira falou que ela estava limpa por fora mas ainda estava suja por dentro. e acabou a historinha. ok. boa noite menininha. e ela pede para eu falar dorme com deus antes de sair do quarto. e eu falo. e fecho a porta. aqui agora quinze para as cinco. amanha eh sexta e muita gente ja fica feliz. vai ter pizza. vai ter happy hour. batatinhas fritas. na rua dos restaurantes, ficam uns funcionarios na frente dos restaurantes perguntando se voce quer jantar. acho que quem quer jantar, janta neh. chega e ve o cardapio. nao sei se menosprezo a tecnica. se nao funcionasse nao existiria essa profissao. mas enfim. tem um amigo meu. que nao sei se posso dizer que ele eh meu amigo porque a gente nao se fala desde 1999. ate 1999 ele era gordinho e metaleiro. ai acho que em meados de 2001, ouvi rumores que ele tinha ido morar em miami e estava magro. hoje, ele eh bombado, mora em miami e posta fotos de oculos escuros no facebook. ouvi rumores, que ele agora trabalha como leao de chacara. que eh outra profissao que me intriga.
 

gol

 
estava ouvindo uma historia de um menino que conheceu seus amigos porque eles todos gostavam do nirvana. a musica e o futebol sao infaliveis. ou quase. ou um. ou outro. se eu soubesse tocar violao, teria pegado o quintuplo de caras que pequei na vida. e se eu gostasse de futebol? nao sei. porque dai eu teria de ter um time. e isso talvez eliminasse algumas possbilidades. sera que se eu tivesse um time, namoraria um cara que torcesse para o mesmo time? ou um romance proibido caso eu torcesse para o burro da central e o amor da minha vida para o cacapava? nao saberia nem por onde comecar a escolher um time de futebol. se voce gostar, posso oferecer conversas longas sobre coisas que nao levam a lugar nenhum. a conversa sobre o futebol, nao tenho tanta certeza. mas sempre pergunto pro fabio que time esta jogando. ele responde. eu me esqueco um segundo depois. ai eu pergunto - e quem ta ganhando? - ai ele me responde. e eu me esqueco de novo. que campeonato eh este mesmo? e assim vai. entre muitas coisas, consigo pegar algumas informacoes. do campeonato brasileiro. estadual. as rivalidades. os perfis dos times. e dai ele tava me explicando que o flamengo eh como o corintians do rio. e o flumimense eh time de playboy. e dai tem o botafogo, que eh a portuguesa, eu acho, seja la o que isso signifique. e tem o vasco, que eh o time que ele torce. que eu nao sei o que eh. mas eh o time que ele torce. e acho que o vasco joga toda quarta feira. eu torco para o vasco em suporte a ele. e quando o botafogo joga eu torco pro botafogo por causa do andre. e quando o sao paulo joga, eu torco para o sao paulo. e quando eles jogam entre si, tanto faz porque no fundo sabemos que os jogos sao comprados. mas ser uma boa mulher tambem eh apoiar as ilusoes de nossos amigos homens, que querem acreditar nos campeonatos. tudo bem. pra mim tambem nao faz diferenca. tenho ate me arriscado a fazer metaforas sobre a vida usando o futebol como referencia para ganhar mais simpatia. ja dizia sainju [o mestre indiano da nova zelandia] "assista rugby, para ter o que falar com as pessoas". eu nao sei se quero falar sobre futebol. o violao eu to conseguindo segurar melhor ja.  mas se eu tivesse gostado de futebol, ai nao ia ter pra ninguem.

Monday 22 October 2012

arroz com banana

tem mistura?
bastao flexivel com algodao na ponta
ja sei do que voce esta falando
voce pensou que eu ia contar sobre o miguel
mas ele nao era roxo
nem rosado ele era
ele era de queijo
mas o queijo de cabra era feito
com mel
quantas torradas?
duas
mais a sopinha de lentilha
colocou a tampa?
ate a beirada
lambeu a colher de bolo
beijou na boca do bruno
so que o doce era meio amargo
da pra fazer sem cebola?
e tres cafezinhos
sem sal ou com acucar?
duas colheres
por favor
sinto dizer-te que o zacarias nao faz mais o programa
modestia a parte
mas eu ja comi o melhor pudim de leite do mundo
jorginho jorginho
mais vale uma pedra perdida que dois sapos azuis
e voce acredita mesmo na novela?
eu nao
a dirce que acredita

 

Sunday 21 October 2012

seis

eu nao sei como me despedi das pessoas
nao lembro como cheguei nesta casa
que casa eh esta?
suas coisas encontram-se no sofa
como vim parar aqui?
depois de dizer adeus, voce chegou
eu e quem mais?
voce e voce
e voce?
eu nao estou aqui
 

Saturday 20 October 2012

the finger rhyme

queridos
dedos
tortinhos

obrigada
por me ajudarem

a me vestir
e escovar meus dentes
a desenhar
a apontar
o caminho
a cortar
o pao
e cocar
coceiras
a segurar
coisas em geral

queridos dedos

dedico este poema

a voces

que tanto fazem
pela minha
pessoa

e

presto aqui

a minha homenagem

a todos os dedos

do mundo

viva
vivam
todos os dedos

de cada ser
humano
e nao humano

dedos

que construiram a historia

da civilizacao

terrena

dedos

pequenos
medios
e grandes

dedos enormes
dedos redondos
dedos longos
dedos estranhos
dedos sedosos

a todos

e cada dedo

que hoje vive
ou viveu

neste planeta

azul e molhado

que chamamos

de terra

dedos meus
dedos seus
dedos dele
dedos dela
dedos nossos
dedos vossos
dedos deles

dedos

tanto sao
quanto tudo sao
despercebidos sao
dedos

dedos

meus caros

vejam bem

esses tantos dedos
que vos falo

dedos muitos
pouco notados

dedos, dedinhos, dedoes
dedos dos pes
dedos que saem
da palma da maos

dedos
que sem

estes dedos

incontaveis que sao

ou talvez contaveis

que quisessem ser tidos

nos, seres

serzinhos endedados

que somos

nos, meus caros

nada

nada!

[ou pouco]

[ou, certamente, diferentes]

seriamos
...

                           [o resto eh silencio...W.S]



 
 

Friday 19 October 2012

biscoitinho de chocolate com cha e lapis de cores
qual seu endereco?
nao sei
um vazio
um vazio
vazio
mais vazio
que o vazio
es
vazio
ex
vazio
 

Sunday 7 October 2012

observando os ultimos acontecimentos

1. bolinho de chocolate pergunta o nome do gato.
2. gato olha desconfiado.
3. cristo arreganha os bracos
4. estatuazinha sai andando como se nada tivesse acontecido

parte

trabalhar de domingo parece oposto. enfim. trabalhar. votar. cumprir deveres do cidadao. certo. voce fala e eu finjo que acredito. deixa passar batido. discutir. pensar. pegar a terceira estrada. pagar a primeira entrada. tridimensionalidade. onze. doze. treze. muitos numeros. formulas que ainda nao consegui decifrar. meu professor de filosofia disseminava a raiva. tudo errado. mas e ai voce eh crianca demais. ou jovem demais. ou mulher demais. ou sonhador demais. ou isso ou aquilo. de menos. vivemos numa conta de subtracao. e vao retirando partes unidades medidas impressoes, ate virarmos o numero. e depois a estamparia do numero. e depois ja estamos crentes daquele deus.

Thursday 4 October 2012

seria simples assim se nao fosse

acordei com dor de barriga. depois voltei a dormir. dormi por doze horas e nao lembro meus sonhos. ja eram cinco da tarde quando bateu a culpa da cama e levantei para comer um pao e tomar cafe. la fora, uma cor de chuva ao anoitecer. nao reclamo o dia que passou sem mim. pego a umidade e a meia-luz. planos de uma caminhada que parece distante. tomar banho para parecer que o dia seguiu alguma rotina. as cosias que falo, que penso parecem nao fazer sentido. em que periodo do mes estamos? lembro que nao sou eu mais quem eu era semana passada. e essa coisa de ciclos femininos as vezes confundem. sinto-me fragil e menina. debaixo de uma coberta para o mundo nao me sugar o pouco de energia que meu corpo precisa para sair pra fora. morte-vida. uma vela. planos. tempo. ha quanto tempo o calendario nao esta me respondendo as exigencias? nao sou, nunca tive calendario nem caderno que terminasse cheio de letras. ou desenhos. ou papeis de bombom. nao tive agenda. nao sei oq eu se passou. fotos nao tenho muitas dos momentos que me indicariam um caminho. as memorias, para onde vao? o gato pede papo. pesquisa o melhor angulo. e pula no meu colo. depois finca as unhinhas enquando apalpa minhas pernas em busca de um ninho. ela quer carinho. eu tambem. hoje. um abraco me faria bem. uma sopa. uma conversa. sinto um aperto. distanciamento. um medo do tempo. um medo de nao dar tempo. um medo que hoje parece maior que nos outros dias de oububro. a sociedade me assusta. as vezes preciso me esconder um pouco. a unha da gata quase fura. o amor que fere. o amor que cura. o amor. suco de laranja do mercado tem gosto de vitamina c da farmacia. como cenoura para manter a saude. da onde veio a cenoura? ja nao sabemos o que sao as coisas. os indicios assustam. a populacao sofre com a confusao. como mudar tudo agora assim de repente? demolimento de casas. de torres. de historias. na tv a vida eh outra. e onde esta a vida agora? a dona lourdes fala sobre a vida de giovanna antonelli. e as ultimas emocoes de uma vida distante da sua. emagrecer. engordar. segedos da celebridades. enquanto isso um homem desconhecido deslancha nas eleicoes municipais. o reino de deus na terra nao soa tao divino. que plano eh esse? quem sabe de tudo? alguem sabe? quatas coisas acontecem no esconderijo do mundo? ha de haver mais verdades. mas elas salvarao alguem? conheci um cara holandes que me perguntou se o paulo coelho era brasileiro. eu disse que sim. dias depois, falamos sobre questoes sociais no brasil. e morte. e violencia. e corrupcao. o cara volta na questao do paulo coelho. eu sem entender seu ponto, esperei. o cara me pergunta, se, uma possivel solucao para o brasil, nao seria distribuir livros do paulo coelho para a populacao ler. assim, talvez, descobrissem mais sobre seus inner selves e seus potenciais. e nao fariam mais o mal uns aos outros. e tracariam uma jornada pessoal em busca da paz e do amor universal. sounds like a plan.

Tuesday 2 October 2012

um pouco antes de ser hoje

na calada da noite
o amanhecer aguarda
o aquecedor aquece
cobertas
cortinas
meias nos pes
xicaras abandonadas no canto perto da cama
chuva no teto
sons
sono
deito
sonho

Monday 1 October 2012

la cucaracha

a menina dorme. eu, sentada na sala, tomo agua. la embaixo, gente passa. um canal. e aqui na frente umas janelas. as escadas para subir sao ingremes. vimos desenho. escovar os dentes. duas historias. boa noite. ha quantos anos, escovo os dentes todos os dias? acordar, escovar os dentes, lavar o rosto. o gosto de nescau na boca. pao, leite. nao sei se ja gostei de nescau, era uma duvida se pa. vindo, do japao, um brinquedo que a meta eh estourar uma bexiga. vai saber. calculadora. cadernos. estatuazinhas indianas. chapeu engracado. porta-retrato. quem eh voce? vivo passando pela casa de outras pessoas. sendo quem nao sou. e depois ja nao sei quem eu sou. e dai eu lembro que nao sou nada. ou sou tudo, o que eh meio que a mesma coisa. ou nao. se o mundo for acabar em dezembro, nao vale a pena se preocupar com nada. se nao for acabar, tambem nao. mas confesso que estou cabreira. ou, no minimo, curiosa. seria legal se o ceu ficasse colorido e umas entidades celestiais aparecessem dizendo um ola. ou contando que coisa eh essa que a gente vive aqui. eu tenho curiosidade. nao queria saber so quando moresse. se tanto. canetas, lapis, cadeira, potinhos, fotografia, tecido, sapato, computador. ja inventaram tanta coisa. tanta coisa. e a gente nem se surpreende mais. mas se o mundo acabar, todas essas invencoes serao engolidas pelo espaco. se o mundo acabar todas essas conversa e certezas e preocupacoes que a gente vive, nao farao sentido. se o mundo nao acabar, tambem nao, porque se ele nao acaba, quem acaba somos nos, hora ou outra. de qualquer forma, humanos gostam de usar tempo com coisas bastante curiosas como comprar propriedades e pares de sapato. sabemos que vamos morrer. e sabemos que so temos dois pes. mas, pra que pensar nisso? conheco uma menina que tem uma colecao de bolsas. bolsas. enfim...quantas bolsas alguem precisa? mas tudo bem. o que eh de gosto regala a vida. sera? detergente, sabao em po, sabonete, shampoo, condicionador, buxinha, escovinha, potinho pra colocar algodao, cotonete, lixinho. tanta coisa. e se o mundo acabar? a loja de um e noventa e nove vai sumir. e os gels de cabelo sairao das prateleiras de supermercado para toda eternidade. ou nao. porque em toda a eternidade, pode surgur de novo, um outro planeta como a terra. cheia de seres. e a evolucao de uma coisa pra outra, ate chegamos novamente, na producao industrial de gel de cabelo. mas talvez nao. e talvez o gel seja coisa unica exclusiva nossa. devemos nos orgulhar? tanta coisa. tanta historia. tanto. tanto. e tudo vai passar. as aulas de matematica. a calculadora. o telefone publico. o walkman. eu. voce. os copos descartaveis. tudo, se vai - nao tao certa em relacao as baratas.

gosto

o gatinho ficou debaixo da chuva lambendo a agua do chao. o cabelo continua crescendo, mesmo que lentamente. a lua encheu e agora ja deve estar esvaziando. voce pensa nas fases da lua quando corta o cabelo? eu nao penso, mas quendo eu era crianca minha mae sempre olhava no calendario. caixinhas de madeira sao objetos adoraveis. cha. cafe. suco de frutas. tem gente que nunca comeu jabutibaca. tem gente que nem sabe que jabuticaba existe. goiaba. goibada era minha fruta favorita na infancia. tavez seja ate hoje. ou nao, porque tem o maracuja doce, que eh algo meio que extraordinario. mas com a goiaba a relacao eh mais intensa. o lance com a goiaba, eh a ideia da goiaba. a goiaba me parece uma fruta deliciosa. eu tenho boas memorias de uma goiaba, que talvez nunca tenha existido. e talvez eu tenha passado a vida procurando por essa saudade. pode ser. pode nao ser. eu lembro de uma certa relacao mais ou menos assim: eu via a goiaba. e eu colhia a goiaba. carregava no peito, a expectativa de sentir aquele gosto magico de uma goiaba doce. o lance, eh que, por alguma razao que so a paixao compreende, ate ai, eu nao lembrava dos gostos amargos das expectativas. e o proximo passo, vinha com a dor de uma perda maior. o gosto entrava. o suco. o mel. o sabor passava viciante pela lingua. os dentes penetravam a carne rosada macia. arrancava um pedaco. e pa. a realidade chegava sem perdao. dentro, uma comunidade de larvas vivas.  o sonho todo acabava ali, antes mesmo da primeira mastigada. e a fruta era toda cuspida pra fora. aconteceu tantas e tantas vezes. que parece bobagem. pra que insistir? mas a esperanca, a grande esperanca de encontrar alguma goiaba diferente das outras goiabas. uma, que passou despercebida a visao daquelas inconvenientes mosquinhas. quem sabe, eu nao conseguiria encontra-la ali? no movimento dos panos quentes, sempre vinha alguma tia falando pra comer com o bicho mesmo. que o bicho nao faz mal. mas sabe assim? outra tentativa, foi comer as goiabas menos maduras, que tinham menos bicho, e as vezes bicho nenhum. mas o sabor nao era o mesmo. anos depois, comecaram a lancar, umas goiabas sem bicho, mas essas se pa nem em arvore crescem. elas nao tem bicho mas tambem nao tem gosto de goiaba. enfim, isso deve ser uma licao de vida. de qualquer maneira, a chuva nao parou de cair. o gato esta la fora. goiaba aqui eh guava. acho que aqui nao tem maracuja doce tambem. tem gente que nem sabe que maracuja doce existe.

Saturday 29 September 2012

sera que a hebe viu sua vida passar em um segundo?

a hebe se foi.  para onde foi a hebe? estara a hebe voando no espaco. atravessando as portas entre os buracos do universo? que se passou com a hebe antes que se fosse? qual foi a ultima coisa que hebe viu antes de ir-se hebe? o que hebe pensou? sera que lembrou da infancia de hebe? sera que pensou no silvio? ou sera que nao pensou em nada? sera que hebe pensou, nas intimidades de hebe? das coisas que hebe levou consigo. os segredos da vida de hebe. os sonhos de hebe. o cheiro de hebe. quais licoes de vida levara hebe consigo? o que hebe queria de ter dito e nao disse? o que queria de ter feito e nao fez? o que sera que ela fez? era hebe feliz? acho que hebe era. quantos homens beijou hebe? quais amores dissolveram-se com o corpo de hebe? sera que hebe encontrou um lugar para ela hebe? o que sera que hebe sabe ?sera que hebe vive agora, nao mais hebe, numa comunidade interplanetaria da quinta dimensao?sera que hebe sabe que ela ja nao eh mais a hebe? se hebe nao eh mais hebe, o que eh hebe entao?

Friday 28 September 2012

ta can ca va a

a va ca can ta
ca va ca ta ca
a ta ca
a ca ta
ca can ta
ca ta
ta ca
ta ta
ta va
a
va ca
can ta va
ca ca ca ca

Tuesday 25 September 2012

la

longe
o barulho de avioes
vao e vem
deixando riscos no ceu
quao longe eh longe?
uns pingos de chuva no chao
passo a mao no meu cabelo
estou em silencio ha tantas horas
que ja comeco a duvidar
se sou eu
que estou mesmo

aqui

builder

tem uma pianista morando ao lado
ou um pianista
cenouras cruas para os coelhos
tinha um caramujo jogado no chao do jardim
a campainha toca
nao eh pra mim
um envelope
tanta coisa que ja viajou num envelope
a historia da humanindade dependeu de envelopes
e pombas
e ninguem liga muito
nem para os envelopes
nem para as pombas
e o inventor da chave neh?
um santo ou demonio?
se nao houvessem chaves, talvez tudo fosse diferente
tanta gente ja passou pela vida
quanta coisa toda essa gente ja nao pensou
realizou
estradas
barcos
avioes
e homens que querem ser pilotos de avioes
tanta coisa
o caderno
aqui voce vai e compra um pacote com 5 cadernos por dois euros
quantas arvores estao ai, e ai dois euros e pa, voce tem cinco cadernos. cadernos sao legais. mas sao muitos cadernos no mundo por dois euros. nao parece certo.
as prateleiras dos supermercados estao sempre cheias
nao parece certo
nao sei
roupa
e tem tanta loja de roupa
juntamos tanta coisa
quem faz os tijolos?
quem colocou os tijolos naquelas casinhas ali no canal?
pensar que pra construir uma casa, voce precisa de material para fazer o tijolo, e o cimento, e precisa de uns ferros e de alguem para pensar em como a casa vai parar em pe e alguem para colocar os ferros e os tijolos e os cimentos, e as telhas, e as madeiras, e os gessos, e os canos, e as tintas, e as instalacoes eletricas, e os pisos, e os ajuleijos, e as portas e janelas e fechaduras e chaves e tudo mais. tanta coisa.
tanta madeira para moveis
tanta madeira para tudo
e plasticos
e agua
tanta coisa
tanta coisa
tomada
vela
vidro
quem descobriu o vidro?
nao sei de nada
meu deus

Sunday 23 September 2012


e assim

sem maiores explicacoes

nada do que aroldo fizera
tinha sido
metade
do calculado
pelos senhores
especialistas
em numerologia
estatistica

de qualquer forma

aroldo
recuperou-se

e virou
uma linda
libelula

Tuesday 18 September 2012

se nao existissem espelhos. nem lagoas. nem aparelhos eletronicos de ultima geracao. como voce acha que sentiria ser o que voce acha que voce eh?

o que foi que o mafagafo disse?

a geladeira aqui nao para de roncar. o gato agora eh outro. branco. e marrom. e preto. deve ser menina. mas ainda nao perguntei o nome. tem uma estatua da torre eiffel. e uma do cristo redentor. foto da belgica. comprei produtos integrais. naturais. organicos. pensei. tive ideias brilhantes. e as perdi em segundos. por isso que escrever tem de ser rapido. senao as palavras escapam das maos. minhas maos nao pareciam tridimensionais esses dias. voce ja parou pra pensar se o menino desenhado no papel tem uma visao unidimensional?
uma vela que cheira vanila.
papagaio.
palmeiras.
o outono levou o sol para o sul.
se eh que norte e sul existem.
se eh que o sol existe.
se eh que algo existe.

Monday 17 September 2012

chegou o vento

lancou as folhas fora
balanca agora
o lencol
la embaixo

o vento trouxe
um barulho
intenso

a porta
o tempo
no meio
da aurora

dancamos
quase
uma noite inteira

o vento
foi-se
e levou-te
embora.

shared

tem alguma coisa minha
na rua coronel gomes nogueira
tem alguma coisa minha
na rua doutor jorge winter
tem alguma coisa minha
dissolvida
em ubatuba
tem alguma coisa minha
num subsolo do ipiranga
tem alguma coisa minha
num ap da vila mariana
tem alguma coisa minha
na rua brigadeiro luis antonio
tem algum pedaco de mim
na rua rego freitas
tem um nada de mim
em morden
tem uma perdida historia
em wembley
um encontro
em links road
tem uma vida toda minha
na north end road
tem um par de oculos meus
na alendale road
tem um arrependimento meu
em onenhunga
tem um outro eu meu
que era voce tambem
em swiss cottage
tem uma caixa de livros meus
em southfields
tem algumas roupas minhas
na hanover road
tem uma mala minha
na rua santo amaro
tem um nao meu
em uma casa no canal
tem uns pedacos meus
em amstelveen
tem um caderno meu
em muiderpoort
tem umas coisas minhas
num armario em limeira
tem umas malas minhas
perto da casa da anne frank
amanha digo adeus ao gato
deixo uns pedacos meus aqui
na copa
escrevendo
pedacos de
coisas
que nem
existem

vaporizador

eu olho para ele. ele olha para mim. o gato. continua a me intrigar. ai olho para as arvores la embaixo. e o vizinho tem uma plantacao de maconha. natureza. gente. coisa. enfim. olho para a arvore. lembro do meu amigo que disse que estava com depressao. e eu, olhando para a arvore, comecei a pensar uma coisa. esse lance da transformacao da humanidade. 2012. tudo isso. e nada disso. e a energia. mutante. estamos em mutacao, isso parece claro. so de olhar para a natureza. e os fluxos de pensamento. e essas esferas invisiveis cheia de informacoes. e essa coisa de que temos outros sentidos alem destes que aprendemos na apostila da primeira serie. entao ta. ai pensei que talvez no que talvez eles queiram dizer quando dizem da mudanca da consciencia - fora as interferencias interplanetarias, forcas cosmicas, que eu sei muito pouco a respeito entao nao vou nem comentar - mas enfim. assim como tudo na natureza. estamos naturalmente passando por uma mudanca de estado. do fisico para o gasoso? a tal neosfera. sera isso? como se tivessemos conhecido toda a densidade disso que acreditamos ser a realidade. materia. fisicalidade. causa - efeito. bipolaridade. mais ou menos por ai. energias densas. emocoes densas. a pedra bruta. os potencias comecaram assim. pelo negativo. e agora, o processo natural, eh aflorar o positivo. revelacao. negativo-positivo. entao, vem dai, um processo de aprendermos a usarmos melhor nossos potenciais. aliviar nossos ombros. e pensar alem. sera? do odio brotara o amor. e da inveja o apreco. do possuir ao contribuir. da sombra a luz. do ser ao estar. estamos. somos passageiros. nao importa o que venha depois. se voce nao quiser se importar. mas isto aqui, desta maneira, neste momento, com essa combinacao de fatores, isso, eh so agora. cada coisa eh unica. ate que se saiba alem. entao. porque estamos vivendo da maneira que estamos vivendo? ai vem a luz. e perceberemos que tudo pode aflorar dentro e fora de nos. amizade amor compaixao colaboracao tempo. mais tempo. mais amor. nao tem como nao ser. porque talvez tambem seja natural nao conseguirmos mais manter os velhos padroes. as desculpas. as acusacoes. teremos de nos transformar, porque nao estamos mais conseguindo fingir que acreditamos que a vida seja isso e ponto. nao da mais. cada dia mais informacoes circulam. percebemos as mudancas. em nos. ainda conseguimos dizer aquelas coisas com a mesma conviccao? vamos tomar remedio por quanto tempo ainda? ja sabemos demais para mantermos os mesmos ideais. ja fomos penetrados por ideias de mudanca. sera isso natural? cultural? processual? para onde caminhamos? somos 80 por cento agua. e coco parece terra. isso sempre me intrigou.

o despertador disfuncional

estou tentando acordar desde as seis e quarenta e cinco. a ideia eh arrumar as malas e limpar a casa o mais rapido possivel. nisso, um convite para panquecas. e uma maquina de lavar loupas. todas as bacterias se misturarao na agua. depois algumas irao embora com ela. e algumas outras vao ficar. tudo se renova. a terapia da arrumacao deve fazer efeito e sei que devo me sentir bem com tudo isso. mas nao me importaria uma solucao magica para a arrumacao e a mudanca. e uma ajuda divina. enfim, sem a juda serei eu mesma a fazer o trampo e vou aprender algo com isso. os amigos se foram. outros virao. outros nos encontraremos em breve. o tempo e o espaco nao exitem foi o que o moco disse ontem. disse que vivemos num mundo entre muitos mundos. realidades pararalelas. entao muitas de mim e de voce circulam enter essas outras realidades, fazendo outras coisas, que sao dependentes de escolhas que voce fez ou nao em outro tempo e em outro espaco. nao ha passado ou futuro. eh como encaramos as coisas. ou como experienciamos. esta tudo aqui, agora. o passado e o presente. entendo a ideia, mas ainda nao descobri como faco para me teletransportar, ou coisa do tipo, entao fica a saudade. enfim. informacoes sao legais. ou tudo que se tem pensado e inventado e pesquisado sobre quem somos nos e o que fazemos aqui. agora sao quase dez aqui. e alguem ai ja deve estar acordando para preparar o cafe da manha. nao eh justo acordar tao cedo. proque aceitamos essas regras idiotas? nao percebemos que eh tudo uma questao de crenca. se nao acreditarmos, algo muda. nao consigo entender a logica do trabalho. as horas do trabalho. o jeito que trabalhamos nessa socidade. eh. nao que nao exista uma natureza no trabalho. na manuntencao da vida. nao eh isso. mas eh a ilogica. o trabalho sem necessidade. o trabalho para enriquecer o outro. enquanto nossos espiritos sussuram pedidos de inspiracao. a logica da escravidao. qual o fim? dinheiro. e quem inventou dinheiro? nos. e quem disse que isso era uma motivacao para continuar vivendo essa rotina escandalosa? quem acreditou. e porque acreditou? porque alguem disse que era assim? e porque essa pessoa disse que era assim? porque os tempos eram outros, e, provavelmente, ela achou que era assim. assim como tudo na vida. a verdade eh que nao sabemos. e reproduzimos. e sofremos, as vezes acordando as cinco da manha. as vezes aguentando a dor, o mau humor, o sofrimentio. porque sofremos? porque sentimos medo. e preguica. e ninguem faz diferente. e se ninguem faz diferente. o diferente leva a culpa por tentar. fofocas rendem horas e adaptacao social. e ai voce ve o que pode ou nao pode fazer para conseguir permanecer no meio. nao, obrigada. nao sou obrigada. nao ha obrigacao. a vida eh curta. e a obrigacao foi criada. e cultivada. pela cultura. nao, obrigada. acho que podemos viver num mundo melhor. vou navegando. e busco novos horizontes. nao, obrigada, nao me padronize nem tente me oprimir de novo. nao obrigada, eu nao vou fazer assim so pra te agradar. eu nem sei quem voce eh. ou o que voce eh. voce deve ser so uma ideia. voce eh tudo uma ideia. entao nao nao. as cinco da manha nao. nem as sete. sim, eu vou ter de pensar sobre tudo isso. mas tudo bem, eu penso. se for, para, pelo menos, incorporar um pouco de criatividade na vida, eu vou por ali. as outras sao historias tambem. sao todas historias. e crencas. ai vem a natureza. e fico cada vez mais curiosa. quem somos nos? o despertador tocou. onze e cinco. acordemos.

Sunday 16 September 2012

antes de invetarem
os oculos,
deveriam pensar
que todos
tinham a mesma
visao
de todas
as coisas.
nove horas ja
o tempo
passa que passa
o relogio
foi inventado
e dai comecamos a seguir
o tempo
do relogio
e se
o relogio
nao tivesse sido nunca
inventado,
como experienciariamos
o passar
do tempo?

como foi que raquel chegou ate aqui?

carrego sempre comigo
alguma coisa comprovada
para garantir  seguranca
carrego comigo um pouco
de ressentimendo
nao sei bem do que
carrego comigo um homem
uma mulher
um gato
e tres papagaios
carrego comigo
sonhos
carrego comigo
duas bananas rosadas
e tres cachos de uvas verdes
carrego comigo
seus olhos
e minhas unhas pequenas
carrego comigo uma enchada
e quatro lencinhos de cabelo
duas meias compridas
o gato me arranha com suas
pequenas
garras
garrafas pelo corredor
carolina entrou
um grilo pulou
o telefone tocou
tudo mudou
e eu cai bem aqui
no meio
da rua
vince e cinco de marco
em pleno
sabado de carnaval
em
1992.

entre portas de casas desconhecidas

tem hora que nao tem jeito. voce tem de decepcionar alguem. e nao tem o que fazer. mas ai eh toda aquela confusao na cabeca sobre decepcao. ou as expectativas que as pessoas colocam em voce. e provavelmente foi responsabilidade sua. ou nao. mas na maioria sim. ou nao. enfim. uma hora nao tem jeito. uma hora eu acabo decepecionando alguem. esses dias eu estava estacionando minha bicicleta. e um homen manco sentou num banco perto de mim. ele era um senhor forte. que arrastava as pernas pra andar. contou que era era marinheiro. e agora restaurava arte. ele parecia mesmo, marinheiro. ou extraterrestre. ele era diferente. talvez fosse um desses anjos disfarcados. ou coisa do tipo. mas a historia q ele contou era essa. entao acreditei. ou nao. ele me disse que estava tentando caminhar, mesmo com as pernas daquele jeito. porque nao queria parar. nao paro. legal. me olhou nos olhos e disse. "voce primeiro". "voce primeiro". o que? eu pergunto. "voce tem de pensar nos outros, mas nao esqueca de pensar em si mesma. cuide-se. depois cuide dos outros.". por que ele me disse aquilo? nao sei. sentiu que deveria. eu escutei. senti que deveria. isso me ajudou sobre essa de decepcionar os outros. vou ter de cancelar. vou ter de cuidar de mim hoje. acordar. me dar banho. e me dar comida. me lembrar de quem eu sou. e me ajudar a dobrar as roupas. e colocar as roupas nas malas. e me ajudar a limpar a casa. e tentar me ajudar a prestar atencao pra deixar tudo bonito. e me ajudar a seguir vivendo. esse corpo. e a realidade. vamos que vamos. no meio tempo, assumi compromissos. agora terei de desassumi-los para proseguir. nao eh possivel estar em dois lugares ao mesmo tempo. entao terei de escolher. escolher. nao eh facil. nao eh facil quebrar a imagem de culpa de que alguem esta ficando puto. ou triste. mas esse minuto dura pouco. e seguimos. e daqui a pouco ninguem se lembra mais. eh a dor do parto. a dor do fim. a dor de que alguem nao goste de mim. ou me julgue mal. pode nao gostar, tudo bem tambem. pode sim. prefiro agradar. se puder ser. se nao puder, nao da. tem horas que eu tambem nao aguento a pressao. e tenho de decepcionar alguem. sou eu mesmo quem se decepciona comigo? sou eu mesma que ainda nao entendo a logica das minhas acoes? ou devo eu aceitar minha ilogicidade. e quem me ame esteja comigo. estou com todos voces. com suas logicidades. amo mesmo assim. ai que cabeca cheia de palavras e pansamentos. o cafe ja esfriou. e o lanchinho foi feito com restos de tudo um pouco. agora tem show talvez eu va, talvez eu nao va. quero ficar. mas talvez eu me decepcione e va. tenho de lidar com esse meu eu que as vezes se entrega a preguica. mas esse eu as vezes so quer fazer as coisas devagar. respeito ele ou me decepciono me lavando para um passeio? nao sei. ainda faltam duas horas. me de um tempo de mim. e relaxa essa cabeca cheia de coisas.

Tuesday 11 September 2012

o que os gatos sabem que eu nao sei?

hoje acordei  com chuva
fiquei um pouco contente que a chuva veio
para me dar uma calma
e o descanso
e a licenca para cancelar compromissos
nao quero andar de bicileta hoje
encagracado que depois do cancelamento
o sol saiu
fiquei um pouco contente que o sol veio
para avisar que ele ainda esta ali
mesmo antes, quando eu nao conseguia percebe-lo
enquanto eu escrevo
um raio bate na cama branca
preciso limpar a pia
lavar panelas
tirar pelos das sombrancelhas
escolher o proximo passo sem receio
a solidao ja chega
panquequinhas com chocolate e banana
tes bolinhas de milho na geladeira
resto de sopa na panela
pessoas que passaram por aqui
sons
vozes
restos
pedacos
espacos
esqueci de passar pomada
ainda nao tirei o esmalte laranja
descascado
e eu
dissolvendo
de novo
nao sei meu endereco
nem telefone de cabeca
mas sei que moro perto dali
da ponte
do viaduto
da esquina da supalauto
perto do supermercado
perto do metro
da estacao de trem
qual o nome?
nao sei pronunciar direito
gotinhas da chuva pinduradas no aco do varal
tudo mudando
os judeus vieram do futuro mesmo?
quem construiu a lua?
existem quantas especies de humanos habitando a esfera?
o que eh esse lugar?
o espaco escuro
o buraco negro
meu pe direito
meus sentimentos
eu de passagem
com passagem reservada para o dia vinte e um de setembro
ele chega
ele disse que tudo que me rodeia sao projecoes de mim mesma
eu crio a realidade
entao quem sao as outras pessoas?
o que existe entre eu e voce?
o que os gatos sabem que eu nao sei?
 

Monday 10 September 2012

e se o futuro estiver aqui, agora? e se o futuro e o passado estao mais presentes do que sabemos estar? enfim, tava pensando nisso hoje. e nas expressoes faciais do gato preto. que sobe na mesa quando eu falo ao telefone. minha mae disse que era para chamar a atencao. nao tenho sono. nem deixo de ter. aprender a falar bom dia nao eh facil. da onde comecamos a comecar a nos conhecer? volto de volta para as primeiras impressoes de nao pertencimento. e aquelas criancas todas confusas vestindo uniformes feios. somos todos magicos, disse o outro baixinho. e eu acreditei em tudo. eu sonho com casas que vao se expandindo. e com ondas do mar. eu entro numa casa. e acho um novo quarto. e uma nova casa se abre. e outro comodo. e pessoas nas casas. e o mar. e ondas gigantes. o que voce sonha? o que voce nao sonha? nao estou certa da minha consistencia. o lance eh que aprendemos muitas coisas. e nao nos demos conta daquilo que ainda nao tem caminho tracado. quem? de que forma? o que eh o que aqui? quem eh quem aqui? o que eh aqui? e dai voce tem que voltar para as coisas praticas cotidianas. esta sou eu, descendo as escadas. nao ha registro de sua passagem. ela nao perdeu o voo. nao. o nome daquele passaro, qual eh mesmo? a grama ficava na diagonal. isso foi ontem ou hoje? que dia foi ontem? onde voce esta agora? minhas cabeca dando voltas em memorias e materias. tenho de lavar a louca. e limpar o coco do gato. nao esquecer desligar o gas. nao esquecer o caminho. nao esquecer o caminho. nao esquecer o caminho.

Wednesday 8 August 2012

maionese de liquidificador

aparecida
apagou
a
parede
do
predio
paralelo
aquele outro predio
que fica perto
da onde
mora o carlos
aquele primo do seu pai
entao
eh o predio
paralelo
aquele outro
predio
perto
daquela padaria famosa que eh daquele homem que ensinava a fazer pao na ana maria quando ela ainda era da record
eu preferia aanamaria quando ela era da record
na globo ela ficou muito sem gracaperdeuaespontaneidade

agora estao dentro de mim

comi
uma lata
de azeitonas
pretinhas
uma atras da outra
as pretas
azeitoninhas


Friday 3 August 2012

caetano,

se
nos encontrassemos
na juventude
sera
que
seriamos amigos?

corredor parade

uma musica no fundo. jazz. ele passa escovando o dente. bom dia!
bom dia!
quem eh voce?
eu?
voce.
eu
voce?
eu.
nao sei.
quem-sou-eu?
nao sei.
seu nome?
eu tenho um nome, sim.
meu nome. meu corpo. duas coisas que eu tenho.
meu nome eh...
me pareceu estrangeiro agora
pensar no meu nome
como se isso quisesse dizer alguma coisa sobre mim
e diz, de fato,
linguagem
historia
biologia
fisica
estamos cercados de leis e conceitos que nos fazem crer ser isso que acreditamos ser
meu nome.
e se eu te disser meu nome
o que acontece depois?
alguma coisa te faz crer
que a gente pode continuar conversando
meu nome te garante
que eu estou aqui
e que voce sabe alguma coisa sobre mim
eu pesso agora
a te pertencer
de alguma forma
agora que voce sabe meu nome
voce me pergunta de onde eu sou
eu nao sei responder
eu.
nao-sei.de-onde-sou
de onde onde?
onde fica o que?
quem decide o onde?
nao sei.
nao sei o que sou.
o que-sou eu?
porque voce quer saber?
e que vem depois?
voce me pergunta o que eu estou fazendo aqui.
eu-nao-tenho-a-minima-ideia-e-voce-tem-a-minima-ideia-do-que-voce-esta-fazendo-aqui?
eu nao sei.
e depois?
voce me pergunta se eu estou gostando.
gostar ou nao gostar? escolho gostar, sim, eu estou gostando.
vai ficar quanto tempo?
o que eh o tempo?
nao sei.
nao sei.
quais sao seus planos?
nao importa o que eu planeje moco, tudo vai acontecer do jeito que acontecer.
ai voce me perguntar o que eu faco.
o que eu faco quando?
eu lembrava de saber andar de bicicleta
sei fazer bolinho de chuva
e cachecol de choche
fiz coisas no passado
nao estou fazendo elas todas agora
ou estou?
nao sei dizer.
nao quer dizer nada.
mas de que tipo de coisa voce gosta?
de todas as coisas, amor universal.
de nada, as vezes fico em silencio.
coisas coloridas.
coisas com fogo.
coisas que terminam com a letra R
sabe onde encontro?
ai voce me pergunta se eu estudei.
estudar. bem. sim. nao. o que? estudei algumas coisas. outras coisas eu nao estudei. ainda. nao que eu nao queira estuda-las. voce quer saber se eu estudei o que, especificamente? e por que?
o que?
voce me olha esquisito.
mas assim, voce fez faculdade de que?
porque voce pergunta isso?
voce quer mesmo saber?
porque?
porque se voce gostar da resposta
talvez voce ache que estamos sob controle
e se eu te responder e voce nao gostar?
e se isso nao disser nada sobre mim?
ou se isso nao quiser dizer o que voce acha que isso quer dizer?
nao sei.
se eu te responder que sim, o que acontece?
se eu te responder que nao, o que acontece?
voce diz:
ah, legal
uma coisa assim bem geral que quer dizer que voce nao sabe o que dizer depois. ou que achou legal mesmo. ou outra coisa que eu nao sei.
legal
ah eh, legal
ai voce diz pra gente combinar alguma coisa uma hora dessas
e eu digo
vamos sim
e voce diz
legal
eu digo
legal
nos olhamos
sem direcao
eu devia te perguntar algo agora
nao sei o que te perguntar
nao vou falar do tempo
tenho opcoes.
mas nao estou certa
voce respira fundo
ameaca um movimeno de pressa
e voce diz
prazer
eu digo
prazer
nao sabemos se sentimos prazer, nem sabemos o que prazer significa, nem porque dizemos prazer depois de conhecer uma pessoa mesmo quando nao sentimos prazer de fato...
mas enfim...
voce vira e me olha mais uma vez
da um sorriso qualquer
abana tchau com a mao
eu abano de volta
com meu sorriso qualquer
tomamos nosso rumo
o que acontece depois
eu nao sei

Thursday 2 August 2012

speed

better
suffer
than
dream
of
suffer
you
dream
you
suffer
but
you
instead
sleep

Wednesday 1 August 2012

why i became a bee, ou, as misteriosas leis da fisica quantica ou um estupendo desencontro

ela esta ali, na hora que ela esta ali
ela nao esta ali, na hora que ela nao esta ali
quando ela nao esta nem la nem ca, ela esta no entre
entre pode ser longo ou curto
entre pode ser bom ou ruim
entre pode so ser
o aqui esta aqui
o ali esta ali
daqui eu olho ali
e comeco a caminhar
ai o aqui virou o ali
e o outro ali, esta prestes a virar
aqui
o que estava ali
nao esta igual
em mim
o que esta ali
ainda nao esta
em mim
o entre esta cheio
de aquis
a chegada ao ali
faz a possibilidade de ir adiante
possivel
o fim de uma jornada
pode ser o comeco
da busca
o fim de uma jornada
chega
mesmo se voce nao sair
daqui
porque o aqui
agora
esta la
o que aqui
foi
foi
que
passou
por aqui
entao
pode ser que
voce
eh que
esta
ai
achando que esta
aqui
quando
voce
ainda esta
la

Sunday 29 July 2012

dier met acht poten

fui ver este ap. desci do trem antes. fui ver. numero 22. apertei a campainha. saiu um homem. mais velho. sombrancelha grossa. gestos grandes. um quarto. outro quarto. banheiro. cozinha. ele me convida para sentar. sento. ele diz pra eu esperar que ele vai me mostrar uma coisa. ele abaixa. e pega uma caixa. segura a caixa com delicadeza. e vem em minha direcao "voce gosta de gatos?". tres gatinhos filhotes. seguro o amarelinho. ele me conta que comecou a consertar radios aos quinze anos. juntava a mesada pra comprar coisas eletronicas. e foi trabalhar com isso. trabalhou para a sony. e depois. largou tudo. para virar. massagista. hoje da aulas de massagem. era casado com uma mulher "mimada pela familia dela". separou-se. disse que em tres semanas vai viajar por cinco semanas com a nova namorada. "com ela eh diferente, podemos dormir na praia, olhando as estrelas que ela fica feliz". "com a outra, eu teria de passar por, pelo menos, sete hoteis para ver qual era o mais limpo". pra onde voces vao? nao sei, so vamos. pego o carro e vou. aqui. ali. mudo de direcao. olho a previsao do tempo. e vou. me mostrou uma foto dele e da namorada numa cachoeira de agua quente que tem em algum lugar que nao lembro o nome. bonito. ele me oferece uma bebida. saio antes do cha.