Tuesday 30 October 2012

e o sergio malandro de sobremesa

sol. arvore. lagoa. planta. amor. azul.

salve-se

o furacao passou. o fim do mundo esta proximo. na pagina da rede social, todo tipo de preocupacao. tem um cara que eu nao sei quem eh que eu tenho como amigo, que fica postando fotos de motos limpas. e coisas assim. ok. tem gente que nao come para comprar uma moto. e dai tem o furacao. que quando passa, nos, pessoinhas, nao nos conformamos. nao que nao seja triste. mas nao que nao seja possivel tambem. ou provavel. acreditamos tanto na historinha da estabilidade, que nos ofendemos com as mudancas climaticas. e antes de ontem o site estava divulgando um seguro contra chuva no seu holiday. talvez seja uma boa neh. pagar para ter o seguro. para poder receber o diheiro de volta, caso a chuva caia. afinal somos escravos. e nossos donos so nos deixam passear uma vez por ano. entao melhor garantir o invetsimento. e esse negocio de seguro foi um negocio mesmo esperto. criam uma realidade falsa. e depois nos desesperam com a realidade real. e depois cobram pela nossa frustracao com a realidade natural. nos aprisionam. e nos dao a garantia de um mes de descanso no ano. e dai pagamos para nos prevenir da chuva. nos convencem a comprar de tudo. nos acreditamos. e depois, pagamos seguro ante-roubo. e tem a historia das mulheres que fazem seguro de bunda. porque a bunda cai. porque as coisas mudam. porque a chuva cai. porque o furacao passa. reclamamos da chuva. do frio. do calor. e queremos garantias que o clima estara de acordo nosso gosto. mesmo nao gostando de quase nenhum clima. porque somos clientes. e pagamos caro para viver na terra. daqui a pouco, vao lancar o seguro-proxima-vida. se voce nao viveu nessa. use o seguro para comprar sua casa propria na proxima vida. ja deixe isso garantido. porque nunca se sabe o dia de amanha. enfim. recebo emails sobre o fim do mundo. e o que vai acontecer dia vinte e um de dezembro ninguem sabe. simplesmente porque ainda nao estamos la. e o dia sera cheio de eventos no mundo inteiro. porque todos os dias ou o que consideramos e chamamos de dia, sao cheios de eventos. queira voce. ou nao. entao nao sabemos o que vai acontecer no dia vinte e um de dezembro. nao sabemos se vai seguir como achamos que todos seguem. ou se sera mesmo,  o ultimo dia dos restos de nossas vidas. dessas vidas. nao sabemos. a princesa do japao, veio a publico falar a respeito. e o xama do interior de sao paulo, esta reunindo uma galera para ver tudo que vai acontecer. e se nao acontecer nada, o que ele vai fazer? e se acontecer tudo que ele esta falando que vai acontecer, o que nos, vamos fazer? nada provavelmente. tomar uma breja. dar um abraco em quem estiver por perto. e chorar. e gritar. ou cantar. ou dar risada. nao da pra saber, o fim do mundo ainda eh uma experiencia nova, que guarda sua proprias reacoes ainda sem referencias na experiencia contemporanea.  ai, tem gente mais mistica. ou mais informada. ou menos informada. que esta comprando imoveis debaixo do chao pra garantir. nao se ei eh verdade. mas nao duvido. tem gente que diz que eh certo. tem gente que diz que nao. tem gente que diz que um planeta vai entrar em colapso com a terra. e tem gente que diz, que vamos mudar a faixa vibracional da terra e vamos saber todas as verdades do mundo. e tem gente que diz que a mudanca de eixo de rotacao da terra nao eh nada demais. e tem gente que diz eh que o fim de uma era. e o comeco de outra. e tem gente que diz que havera uma revolucao alienigena. e tem gente que diz, que havera uma revolucao do pensamento. e tem gente que diz que quem vai inventar essa historia de et sao os americanos, e seus interesses economicos. e tem gente que diz que eh tudo magia. e tem gente que nem sabe dessa historia de fim do mundo, e ta pagando as prestacoes do bau da felicidade. eu nao sei o que esta acontecendo. eu nao sei o que vai acontecer. agora sao ainda onze e quarenta e quatro da manha. dia trinta de outubro. ainda temos mais um mes e uns vinte e dois dias. na duvida, vou escovar os dentes.

Saturday 27 October 2012

conversa com minha mae

- o foda eh que os homens nao sabem direito o que fazer com as mulheres hoje em dia.
 
- eh. porque antes o homem tinha que cacar. e a mulher ficava em casa, cuidando da casa. vai ver a mulher sempre teve que pensar mais. porque ela tinha que organizar a casa. e preparar a comida. e cuidar dos filhos. e o homem tinha que cacar. mas era a mulher que tinha que ser criativa para deixar a caca gostosa. agora o homem nao precisa mais cacar. a mulher sai e vai no supermercado.

Friday 26 October 2012

fora de area

a madrugada chega ao meio. passou as ultimas doze horas entre o teclado a cozinha e o banheiro. seguiu um coelho. caiu numa sala que nao sabia se era grande ou pequena. nao sabia se ela era grande ou pequena. ela chora e nada em suas lagrimas. um e sessenta. um e cinquenta e oito. quarenta e seis quilos. encaixa em quase qualquer canto sem incomodar. nao cabe nesta carcaca. objeto tridimensional. textura macia. sem pelos. e cheiro de perfume rosa. so que num mundo onde os espelhos sao avessos, contrataram-na para carregar as pedras das piramides do egito. no meio do caminho, resolveu fugir para santiago de compostela. chegou so. os homens da cidade interessaram-se pela jovem donzela desprotegida. fizeram um leilao. mas a menina nao queria ser leiloada. deixou o caminho e seguiu pela floresta. depois encontrou um exercito, que a confundiu com o inimigo. e sozinha, teve de lutar contra mais de duzentos soldados. exausta, seguiu o caminho com fome e com frio.  chegou numa terra de anoes. e acharam que ela era um gigante. ela nao queria ser gigante. entao seguiu seu caminho. e chegou numa terra de gigantes. e la acharam que ela era uma ana. e ela nao queria ser ana. entao seguiu seu caminho. e chegou a um vilarejo onde todas as pessoas falavam um estranho idioma. so que ela nao entendia aquele idioma. entao acharam que ela nao era deste planeta. e atacaram a menina. pequena, seguiu sua jornada. encontrou entao, um principe. e ela achou que o principe a salvaria. so que o principe estava ocupado com outra coisa. e ela teve de seguir sozinha. encontrou na estrada, todo tipo de gente. e acharam que ela todo tipo de coisa. e ela percebeu que ela era aquilo que ela era. e ela era, aquilo que as pessoas achavam que ela era. ela entao deixou que as pessoas achassem o que quisessem. e foi morar nas ilhas samoa.

ticket para plutao

e quem vai querer falar com voce sobre essas coisas? eh como segurar um furacao numa caixinha de fosforos. o problema eh que se abre um pouquinho ja comeca um vendaval. e quem vai querer conversar com voce sebre essas coisas? coloca um pouco em outro lugar. ate sobrar so uma pessoa ai dentro. e dai voce pode comecar a conversa. e pra onde eu mando as conversas que nunca acontecerao? para o espaco. e onde eh que este quem esta? e se nao existir mais ninguem alem de voce? eu nao sei o que fazer. nao tenho como receber entregas. nao sei onde voce esta. eu nao estou mais naquele lugar de antes. eu nao sei onde estou. ninguem aqui fala a minha lingua. onde esta quem vai querer falar com voce sobre isso? quem eh que mora aqui? eu ja disse que nao sei. onde eh que estou? voce chegou aqui sozinha. e onde eu caibo agora? na segunda gaveta, ao lado das colheres.

projecoes

o frio emplacou e agora nao tem o que chorar. dentro de casa. pratos na pia. farelos na mesa. computador meio sujo mas funcionando. preciso limpar o computador de novo. comi gengibre para melhorar a digestao. e um leguminho sem graca vermelho e branco que tambem parece saudavel. e um pudim de leite com chocolate, porque tambem sou filha de deus. ta frio. e nao tem o que fazer. o cinema perdeu o sentido depois dos sites de download e movies online. tem a opcao de sair para um cafe. ou um restaurante. ou um bar. fazer amizade na rua. mas ta frio demais para amizade na rua. e dai tem o pc. e tem as coisas que da pra nao fazer e pra fazer no pc. voce checa o email umas vezes. e o facebook. e manda uns emails. e pensa na vida. e desenha. e olha pra cara do gato. cancelaram o trabalho porque a menininha vai dormir na casa de uma amiguinha. legal, eu tambem preferiria dormir na casa da amiguinha. me esforcei para dar uma volta no quarteirao. a lua ta linda tidedico. algum vizinho ta tocando uma flautinha. ontem ganhei um monte de bobo de camarao de um amigo. antes eu entendia gogo de camarao. mas hoje fui comer o bobo. e os camaroes pareciam bichos demais para serem comidos. deixei o prato de lado com um pouco de culpa. voce pensa nos lactobacilos vivos do yakult? essa imagem sempre me vinha a cabeca. colocam cada coisa na cabeca das criancas. yakult. agua. terra. fogo. ar. ferro. zinco. cobre. passarinhos. montanhas. zebra. eu. voce. o frio. tudo combinacoes atomicas. nao sei se isso vale caso a terra seja um holograma.

fala coracao

isso foi em 1991. comecou no gira-gira do parquinho maior da escola. o gilberto sentou do meu lado. o gira-gira vervelho. e o gilberto chegando. gilberto sentou do meu lado. e comecamos a rodopiar. gilberto era loiro. cabelo quase respado. olho preto. e oculos grande preto. ou pelo menos eh assim que eu me lembro dele. gilberto era amavel. e gostava de mim. gilberto gostava de mim. e me seguia no recreio. e eu gostava do gilberto. mas nao sabia se gostava dele me seguindo no recreio. eu secretamente gostava. mas parecia um conflito social expor aquela historia ali no meio da escola. tinha alguma coisa subjetiva na minha cultura, que me fazia sentir vergonha daquele amor. e tinha alguma outra coisa subjetiva na minha cultura, que me dizia que eu deveria me constranger com aquela situacao. comecei entao, a evitar o gilberto. e ele vinha falar comigo. e eu saia de perto. querendo ficar. saia de perto. e depois ele saia de perto. e nao falei mais com o gilberto. e eu vi o gilberto sofrer a minha rejeicao na minha frente.  e eu ri do gilberto. e ele chorou. e entao. eu maltratei o gilberto. e fiz a classe inteira maltratar o gilberto. eu fui muito ma mesmo. e nao sei porque fui ma. secretamente, sentia falta do gilberto quando ele nao vinha na aula. e, secretamente, esperava encontra-lo por acaso numa festa inesperada fora dali. mas na escola, eu nao sabia porque, eu nao podia ceder. amei o gilberto, secretamente, por um ano pelo menos. em 1992, o ano letivo comecou na quarta-serie. o gilberto nao apareceu na sala. meu coracao doeu. ninguem sabia do gilberto. e ninguem pareceu importar-se com a ausencia dele no espaco. eu sofri. ninguem mais falou do gilberto. eu sofri, sem entender direito, sem entender o porque. e porque eu tinha feito as coisas que eu fiz. senti-me responsavel por sua saida da escola. por algum problema que ele possa ter enfrentado na vida. por conta da minha bobeira. da minha vergonha. do meu desejo de predominar a situacao. eu nao sei se o gilberto saiu da escola por causa disso. ou se ele simplesmente se mudou. eu nao sei se ele sofreu. se ele se sentiu mal. ou quantas vezes ele sentiu-se mal, por conta da minha atitude equivocada. eu tinha nove anos. e a dor nao passou. porque eu nao sei as consequencias que isso teve de verdade na vida dele. eu sei das consequencias que teve na minha. eu senti. no fundo da minha alma. e eu nunca mais vi o gilberto. nunca cruzei com ele na cidade. nem em nenhuma festa juvenil. nao tinha foto do gilberto. e nao tenho ideia de como ele seja hoje em dia. i wonder. o que sera que aconteceu com voce gilberto, depois que voce saiu daquele portao verde de madeira, no ultimo dia de aula, em dezembro? e a gente nem se despediu. deixei a cidade sem saber quem o gilberto era. e senti muito. senti culpa. senti remorso. senti incompreensao. gilberto sofreu por um ano as consequencias daquele meu amor mal resolvido. porque nao deixei o gilberto gostar de mim? nao sei. queria pedir desculpas, gilberto. por mim. pela sociedade. pela falta de compreensao que temos, em nossa cultura, do amor. peco desculpas a voce, por nao ter respeitado seus sentimentos. e nem apreciado sua presenca. espero, sinceramente, que seu coracao de crianca, tenha feito voce esquecer das coisas crueis que a minha pessoa de crianca disse pra voce. eu me arrependi profundamente. e ainda penso em ti com dor. eu nao sei o sobrenome do gilberto. eu nao sei se ele tem facebook. se mora em taubate. em guararema. ou no meio da india. espero que ele esteja feliz.

a fia, fia.

a fia era amiga de uma amiga da minha mae. e quando eu tinha um pouco mais de uma ano de idade a fia veio morar com a gente. ela cuidava de mim de manha, quando a minha mae ia trabalhar. a fia ficou la em casa acho q um ano mais ou menos. e eu nao lembro muitos detalhes porque eu era muito pequena. mas eu lembro bem da fia. e tem algumas fotos que me trazem mais lembrancas que nao sei se sao reais ou nao. mas algumas coisas ficam. a fia era jovem. e a fia era legal. a fia, me levava para passear de vez em quando. e em taubate, em 1983, nao tinha la muita coisa pra fazer. na frente da igreja tinha um parquinho bem dinamico. e dai tinham os supermercados. que desde aquela epoca ja distribuiam cafezinho de graca. nao sei se eh coisa de gente de taubate, mas o povo adora passear no supermercado. minha avo, minha mae, minhas tias, meus vizinhos, todos,  adoram passear no supermercado. e a fia nao era diferente. a fia era amiga da moca do cafezinho do supermercado. e isso eu lembro bem. e nao sei como eu lembro bem. mas eu lembro, que ela me colocava numa bancada do lado da parada do cafezinho. a moca do cafezinho falava com a fia. a fia falava com a moca.  meu copinho ia sendo updated. e eu ficava quietinha. a fia, certamente, nao estava a par das regras de health and safety da inglaterra. na inglaterra, te consideram quase um criminoso se voce da uma barrinha de chocolate para uma crianca. eles tem certeza que acucar deixa criancas doidonas e incontrolaveis. and they don't want that. imagine voce entao o conteudo daquele copinho melado. a fia estaria fodida. foram altas doses de passeios estimulantes no supermercado da cidade. dado momento, minha mae descobriu o feito. mas nao pareceu se importar muito. enquanto isso, meu cerebro ia recebendo altissimas doses de cafeina diariamente. se fosse na inglaterra, eu teria um diagnostico. como era no brasil, eu era uma crianca engracadinha, que gostava de cafe "preto". e isso comecou a virar sensacao. e eu ia na casa das tias, e elas queriam ver eu tomando cafe. eu fazia minha parte. e todo mundo ficava feliz. ano passado eu tava lendo um livro do steiner, falando que o cafe eh bom para quando alguem quer pensar. que cha eh bebida de diplomatas. e cafe, de pensadores. se eu tivesse nascido na inglaterra provavelmente minha baba me daria cha com leite. e tudo seria diferente. mas eu nasci no brasil. e sou o que sou. seja la o que isso for. o que eu sei, eh que minha cabeca nao para de falar ha uns 29 anos. e se pa, foi tudo culpa da amiga da fia.
 

Thursday 25 October 2012

o vento do bafo

quatro e meia da manha aqui
meia noite e meia ai
tres e meia da manha em londres
tres e meia da tarde na nova zelandia
estou sentada na caminha que fica no chao. o aquecedor eletrico solta um bafo que sufoca. parece sauna. mas se desliga, fica frio. eu tenho que sair de casa para fazer xixi. e ta frio la fora. entao seguro o xixi ao maximo. mas as quatro e meia da manha, ja tive de enfrentar o resfriamento pelo menos duas vezes. se eu nunca mais encontrasse ninguem na vida, ficaria sozinha para sempre. da pra desenhar. ler. comer. dormir. andar. fazer quase tudo na solidao. mas eu me questiono que estrutura emocional as pessoas completamente solitarias desenvolvem. a solidao nao eh sofrida. ela eh neutra. ela nao fere. nao confronta. ela segue. segue o basico. passei pela rua de restaurantes e considerei me convidar para um jantar. mas hoje eu nao ia poder porque tava indo para o trabalho. comprei pao de hamburger, salsicha vegetariana e molho de tomate com pimentao. hot-dog. depois nozes cobertas com chocolate para dar energia. durente o babysitting, li um gibi das meninas poderosas sobre uma cidade que era limpa. e os inimigos eram monstros de sujeira. e a docinho nao queria tomar banho. e ela ficou fedida. e a familia expulsou ela de casa porque ela estava fedendo. dai os amigos expulsaram ela da casa deles porque ela estava fedendo. ai a escola evacuou e deixou ela sozinha na escola porque ela tava fedendo. ai ela foi ficar a sos numa montanha. e dai apareceu um monstro. e o monstro nao quis lutar com ela, porque ela tava fedendo. e dai ela resolveu tomar banho. e dai durante o banho ela disse que so estava tomando banho para ficar limpa para lutar de novo com o monstro. e dai a amiga superpoderosa loira falou que ela estava limpa por fora mas ainda estava suja por dentro. e acabou a historinha. ok. boa noite menininha. e ela pede para eu falar dorme com deus antes de sair do quarto. e eu falo. e fecho a porta. aqui agora quinze para as cinco. amanha eh sexta e muita gente ja fica feliz. vai ter pizza. vai ter happy hour. batatinhas fritas. na rua dos restaurantes, ficam uns funcionarios na frente dos restaurantes perguntando se voce quer jantar. acho que quem quer jantar, janta neh. chega e ve o cardapio. nao sei se menosprezo a tecnica. se nao funcionasse nao existiria essa profissao. mas enfim. tem um amigo meu. que nao sei se posso dizer que ele eh meu amigo porque a gente nao se fala desde 1999. ate 1999 ele era gordinho e metaleiro. ai acho que em meados de 2001, ouvi rumores que ele tinha ido morar em miami e estava magro. hoje, ele eh bombado, mora em miami e posta fotos de oculos escuros no facebook. ouvi rumores, que ele agora trabalha como leao de chacara. que eh outra profissao que me intriga.
 

gol

 
estava ouvindo uma historia de um menino que conheceu seus amigos porque eles todos gostavam do nirvana. a musica e o futebol sao infaliveis. ou quase. ou um. ou outro. se eu soubesse tocar violao, teria pegado o quintuplo de caras que pequei na vida. e se eu gostasse de futebol? nao sei. porque dai eu teria de ter um time. e isso talvez eliminasse algumas possbilidades. sera que se eu tivesse um time, namoraria um cara que torcesse para o mesmo time? ou um romance proibido caso eu torcesse para o burro da central e o amor da minha vida para o cacapava? nao saberia nem por onde comecar a escolher um time de futebol. se voce gostar, posso oferecer conversas longas sobre coisas que nao levam a lugar nenhum. a conversa sobre o futebol, nao tenho tanta certeza. mas sempre pergunto pro fabio que time esta jogando. ele responde. eu me esqueco um segundo depois. ai eu pergunto - e quem ta ganhando? - ai ele me responde. e eu me esqueco de novo. que campeonato eh este mesmo? e assim vai. entre muitas coisas, consigo pegar algumas informacoes. do campeonato brasileiro. estadual. as rivalidades. os perfis dos times. e dai ele tava me explicando que o flamengo eh como o corintians do rio. e o flumimense eh time de playboy. e dai tem o botafogo, que eh a portuguesa, eu acho, seja la o que isso signifique. e tem o vasco, que eh o time que ele torce. que eu nao sei o que eh. mas eh o time que ele torce. e acho que o vasco joga toda quarta feira. eu torco para o vasco em suporte a ele. e quando o botafogo joga eu torco pro botafogo por causa do andre. e quando o sao paulo joga, eu torco para o sao paulo. e quando eles jogam entre si, tanto faz porque no fundo sabemos que os jogos sao comprados. mas ser uma boa mulher tambem eh apoiar as ilusoes de nossos amigos homens, que querem acreditar nos campeonatos. tudo bem. pra mim tambem nao faz diferenca. tenho ate me arriscado a fazer metaforas sobre a vida usando o futebol como referencia para ganhar mais simpatia. ja dizia sainju [o mestre indiano da nova zelandia] "assista rugby, para ter o que falar com as pessoas". eu nao sei se quero falar sobre futebol. o violao eu to conseguindo segurar melhor ja.  mas se eu tivesse gostado de futebol, ai nao ia ter pra ninguem.

Monday 22 October 2012

arroz com banana

tem mistura?
bastao flexivel com algodao na ponta
ja sei do que voce esta falando
voce pensou que eu ia contar sobre o miguel
mas ele nao era roxo
nem rosado ele era
ele era de queijo
mas o queijo de cabra era feito
com mel
quantas torradas?
duas
mais a sopinha de lentilha
colocou a tampa?
ate a beirada
lambeu a colher de bolo
beijou na boca do bruno
so que o doce era meio amargo
da pra fazer sem cebola?
e tres cafezinhos
sem sal ou com acucar?
duas colheres
por favor
sinto dizer-te que o zacarias nao faz mais o programa
modestia a parte
mas eu ja comi o melhor pudim de leite do mundo
jorginho jorginho
mais vale uma pedra perdida que dois sapos azuis
e voce acredita mesmo na novela?
eu nao
a dirce que acredita

 

Sunday 21 October 2012

seis

eu nao sei como me despedi das pessoas
nao lembro como cheguei nesta casa
que casa eh esta?
suas coisas encontram-se no sofa
como vim parar aqui?
depois de dizer adeus, voce chegou
eu e quem mais?
voce e voce
e voce?
eu nao estou aqui
 

Saturday 20 October 2012

the finger rhyme

queridos
dedos
tortinhos

obrigada
por me ajudarem

a me vestir
e escovar meus dentes
a desenhar
a apontar
o caminho
a cortar
o pao
e cocar
coceiras
a segurar
coisas em geral

queridos dedos

dedico este poema

a voces

que tanto fazem
pela minha
pessoa

e

presto aqui

a minha homenagem

a todos os dedos

do mundo

viva
vivam
todos os dedos

de cada ser
humano
e nao humano

dedos

que construiram a historia

da civilizacao

terrena

dedos

pequenos
medios
e grandes

dedos enormes
dedos redondos
dedos longos
dedos estranhos
dedos sedosos

a todos

e cada dedo

que hoje vive
ou viveu

neste planeta

azul e molhado

que chamamos

de terra

dedos meus
dedos seus
dedos dele
dedos dela
dedos nossos
dedos vossos
dedos deles

dedos

tanto sao
quanto tudo sao
despercebidos sao
dedos

dedos

meus caros

vejam bem

esses tantos dedos
que vos falo

dedos muitos
pouco notados

dedos, dedinhos, dedoes
dedos dos pes
dedos que saem
da palma da maos

dedos
que sem

estes dedos

incontaveis que sao

ou talvez contaveis

que quisessem ser tidos

nos, seres

serzinhos endedados

que somos

nos, meus caros

nada

nada!

[ou pouco]

[ou, certamente, diferentes]

seriamos
...

                           [o resto eh silencio...W.S]



 
 

Friday 19 October 2012

biscoitinho de chocolate com cha e lapis de cores
qual seu endereco?
nao sei
um vazio
um vazio
vazio
mais vazio
que o vazio
es
vazio
ex
vazio
 

Sunday 7 October 2012

observando os ultimos acontecimentos

1. bolinho de chocolate pergunta o nome do gato.
2. gato olha desconfiado.
3. cristo arreganha os bracos
4. estatuazinha sai andando como se nada tivesse acontecido

parte

trabalhar de domingo parece oposto. enfim. trabalhar. votar. cumprir deveres do cidadao. certo. voce fala e eu finjo que acredito. deixa passar batido. discutir. pensar. pegar a terceira estrada. pagar a primeira entrada. tridimensionalidade. onze. doze. treze. muitos numeros. formulas que ainda nao consegui decifrar. meu professor de filosofia disseminava a raiva. tudo errado. mas e ai voce eh crianca demais. ou jovem demais. ou mulher demais. ou sonhador demais. ou isso ou aquilo. de menos. vivemos numa conta de subtracao. e vao retirando partes unidades medidas impressoes, ate virarmos o numero. e depois a estamparia do numero. e depois ja estamos crentes daquele deus.

Thursday 4 October 2012

seria simples assim se nao fosse

acordei com dor de barriga. depois voltei a dormir. dormi por doze horas e nao lembro meus sonhos. ja eram cinco da tarde quando bateu a culpa da cama e levantei para comer um pao e tomar cafe. la fora, uma cor de chuva ao anoitecer. nao reclamo o dia que passou sem mim. pego a umidade e a meia-luz. planos de uma caminhada que parece distante. tomar banho para parecer que o dia seguiu alguma rotina. as cosias que falo, que penso parecem nao fazer sentido. em que periodo do mes estamos? lembro que nao sou eu mais quem eu era semana passada. e essa coisa de ciclos femininos as vezes confundem. sinto-me fragil e menina. debaixo de uma coberta para o mundo nao me sugar o pouco de energia que meu corpo precisa para sair pra fora. morte-vida. uma vela. planos. tempo. ha quanto tempo o calendario nao esta me respondendo as exigencias? nao sou, nunca tive calendario nem caderno que terminasse cheio de letras. ou desenhos. ou papeis de bombom. nao tive agenda. nao sei oq eu se passou. fotos nao tenho muitas dos momentos que me indicariam um caminho. as memorias, para onde vao? o gato pede papo. pesquisa o melhor angulo. e pula no meu colo. depois finca as unhinhas enquando apalpa minhas pernas em busca de um ninho. ela quer carinho. eu tambem. hoje. um abraco me faria bem. uma sopa. uma conversa. sinto um aperto. distanciamento. um medo do tempo. um medo de nao dar tempo. um medo que hoje parece maior que nos outros dias de oububro. a sociedade me assusta. as vezes preciso me esconder um pouco. a unha da gata quase fura. o amor que fere. o amor que cura. o amor. suco de laranja do mercado tem gosto de vitamina c da farmacia. como cenoura para manter a saude. da onde veio a cenoura? ja nao sabemos o que sao as coisas. os indicios assustam. a populacao sofre com a confusao. como mudar tudo agora assim de repente? demolimento de casas. de torres. de historias. na tv a vida eh outra. e onde esta a vida agora? a dona lourdes fala sobre a vida de giovanna antonelli. e as ultimas emocoes de uma vida distante da sua. emagrecer. engordar. segedos da celebridades. enquanto isso um homem desconhecido deslancha nas eleicoes municipais. o reino de deus na terra nao soa tao divino. que plano eh esse? quem sabe de tudo? alguem sabe? quatas coisas acontecem no esconderijo do mundo? ha de haver mais verdades. mas elas salvarao alguem? conheci um cara holandes que me perguntou se o paulo coelho era brasileiro. eu disse que sim. dias depois, falamos sobre questoes sociais no brasil. e morte. e violencia. e corrupcao. o cara volta na questao do paulo coelho. eu sem entender seu ponto, esperei. o cara me pergunta, se, uma possivel solucao para o brasil, nao seria distribuir livros do paulo coelho para a populacao ler. assim, talvez, descobrissem mais sobre seus inner selves e seus potenciais. e nao fariam mais o mal uns aos outros. e tracariam uma jornada pessoal em busca da paz e do amor universal. sounds like a plan.

Tuesday 2 October 2012

um pouco antes de ser hoje

na calada da noite
o amanhecer aguarda
o aquecedor aquece
cobertas
cortinas
meias nos pes
xicaras abandonadas no canto perto da cama
chuva no teto
sons
sono
deito
sonho

Monday 1 October 2012

la cucaracha

a menina dorme. eu, sentada na sala, tomo agua. la embaixo, gente passa. um canal. e aqui na frente umas janelas. as escadas para subir sao ingremes. vimos desenho. escovar os dentes. duas historias. boa noite. ha quantos anos, escovo os dentes todos os dias? acordar, escovar os dentes, lavar o rosto. o gosto de nescau na boca. pao, leite. nao sei se ja gostei de nescau, era uma duvida se pa. vindo, do japao, um brinquedo que a meta eh estourar uma bexiga. vai saber. calculadora. cadernos. estatuazinhas indianas. chapeu engracado. porta-retrato. quem eh voce? vivo passando pela casa de outras pessoas. sendo quem nao sou. e depois ja nao sei quem eu sou. e dai eu lembro que nao sou nada. ou sou tudo, o que eh meio que a mesma coisa. ou nao. se o mundo for acabar em dezembro, nao vale a pena se preocupar com nada. se nao for acabar, tambem nao. mas confesso que estou cabreira. ou, no minimo, curiosa. seria legal se o ceu ficasse colorido e umas entidades celestiais aparecessem dizendo um ola. ou contando que coisa eh essa que a gente vive aqui. eu tenho curiosidade. nao queria saber so quando moresse. se tanto. canetas, lapis, cadeira, potinhos, fotografia, tecido, sapato, computador. ja inventaram tanta coisa. tanta coisa. e a gente nem se surpreende mais. mas se o mundo acabar, todas essas invencoes serao engolidas pelo espaco. se o mundo acabar todas essas conversa e certezas e preocupacoes que a gente vive, nao farao sentido. se o mundo nao acabar, tambem nao, porque se ele nao acaba, quem acaba somos nos, hora ou outra. de qualquer forma, humanos gostam de usar tempo com coisas bastante curiosas como comprar propriedades e pares de sapato. sabemos que vamos morrer. e sabemos que so temos dois pes. mas, pra que pensar nisso? conheco uma menina que tem uma colecao de bolsas. bolsas. enfim...quantas bolsas alguem precisa? mas tudo bem. o que eh de gosto regala a vida. sera? detergente, sabao em po, sabonete, shampoo, condicionador, buxinha, escovinha, potinho pra colocar algodao, cotonete, lixinho. tanta coisa. e se o mundo acabar? a loja de um e noventa e nove vai sumir. e os gels de cabelo sairao das prateleiras de supermercado para toda eternidade. ou nao. porque em toda a eternidade, pode surgur de novo, um outro planeta como a terra. cheia de seres. e a evolucao de uma coisa pra outra, ate chegamos novamente, na producao industrial de gel de cabelo. mas talvez nao. e talvez o gel seja coisa unica exclusiva nossa. devemos nos orgulhar? tanta coisa. tanta historia. tanto. tanto. e tudo vai passar. as aulas de matematica. a calculadora. o telefone publico. o walkman. eu. voce. os copos descartaveis. tudo, se vai - nao tao certa em relacao as baratas.

gosto

o gatinho ficou debaixo da chuva lambendo a agua do chao. o cabelo continua crescendo, mesmo que lentamente. a lua encheu e agora ja deve estar esvaziando. voce pensa nas fases da lua quando corta o cabelo? eu nao penso, mas quendo eu era crianca minha mae sempre olhava no calendario. caixinhas de madeira sao objetos adoraveis. cha. cafe. suco de frutas. tem gente que nunca comeu jabutibaca. tem gente que nem sabe que jabuticaba existe. goiaba. goibada era minha fruta favorita na infancia. tavez seja ate hoje. ou nao, porque tem o maracuja doce, que eh algo meio que extraordinario. mas com a goiaba a relacao eh mais intensa. o lance com a goiaba, eh a ideia da goiaba. a goiaba me parece uma fruta deliciosa. eu tenho boas memorias de uma goiaba, que talvez nunca tenha existido. e talvez eu tenha passado a vida procurando por essa saudade. pode ser. pode nao ser. eu lembro de uma certa relacao mais ou menos assim: eu via a goiaba. e eu colhia a goiaba. carregava no peito, a expectativa de sentir aquele gosto magico de uma goiaba doce. o lance, eh que, por alguma razao que so a paixao compreende, ate ai, eu nao lembrava dos gostos amargos das expectativas. e o proximo passo, vinha com a dor de uma perda maior. o gosto entrava. o suco. o mel. o sabor passava viciante pela lingua. os dentes penetravam a carne rosada macia. arrancava um pedaco. e pa. a realidade chegava sem perdao. dentro, uma comunidade de larvas vivas.  o sonho todo acabava ali, antes mesmo da primeira mastigada. e a fruta era toda cuspida pra fora. aconteceu tantas e tantas vezes. que parece bobagem. pra que insistir? mas a esperanca, a grande esperanca de encontrar alguma goiaba diferente das outras goiabas. uma, que passou despercebida a visao daquelas inconvenientes mosquinhas. quem sabe, eu nao conseguiria encontra-la ali? no movimento dos panos quentes, sempre vinha alguma tia falando pra comer com o bicho mesmo. que o bicho nao faz mal. mas sabe assim? outra tentativa, foi comer as goiabas menos maduras, que tinham menos bicho, e as vezes bicho nenhum. mas o sabor nao era o mesmo. anos depois, comecaram a lancar, umas goiabas sem bicho, mas essas se pa nem em arvore crescem. elas nao tem bicho mas tambem nao tem gosto de goiaba. enfim, isso deve ser uma licao de vida. de qualquer maneira, a chuva nao parou de cair. o gato esta la fora. goiaba aqui eh guava. acho que aqui nao tem maracuja doce tambem. tem gente que nem sabe que maracuja doce existe.