buscava um trabalho. mas nao um que pagasse. ou não só um que pagasse pelas contas. mas não sabia se aquilo que buscava era um trabalho. uma carreira. quantas coisas que buscamos buscamos mesmo? o que buscaríamos se não tivessemos que buscar essas coisas? se a escola não fosse obrigatória. e se pagar não fosse tudo isso assim? não sei. a familia queria que fizesse um curso. uma pressão. um diploma. alguma coisa para colocarem na parede. mas não era um quadro pintado de colorido. casou-se com a mulher errada. a mulher que não era a mulher que ele queria que ela fosse. ela não era pura. nem calada. nem morta. nem uma porta ela era. e sofria. chorava as vezes e causava irritação. a ele. e a ela propria. comprou um cachorrinho. depois sentiu culpa por pagar pelo cachorro. e nem gostou tanto assim do cachorro. e nem precisava pagar por ele sabendo de todos aqueles sites de adoção que via no mural do facebook. comprou o cachorro porque ele parecia ideal. depois cresceu.e ele se cansou de limpar cocô. soltou o cachorro na rua. mas preferiu acreditar na fuga do cão querido. contou para os amigos com lastima. mas nem tinha tantos amigos assim. ninguem tava nem ai, nem para ele, nem para o cachorro, nem para sua carreira. para sua carreira um pouco. porque os amigos eram do trabalho. e acreditavam ter assuntos em comum. os assuntos em comum, eram comuns a toda a nação de assistidores. times e escalas. mulheres gostosas. esposas sem graça. eles sem nada mais para falar sobre nada. e era assim, sempre que podiam. sempre depois das seis. uma dia saiu mais cedo. foi advertido sem piedade. depois perdeu a vontade. e parou. sentou no banco em busca de sentido. apagou. somou. sonhou com os amigos que nunca existiram. e uma carreira que nunca foi sucedida. sonhou com aquilo que ele queria ter sido. mas ai o sonho apagou quando ele notou que nunca queria ter nem existido.
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