se você não fosse você, o que você seria?
(perguntou a maquina de lavar para o varal)
o varal, que sempre mantinha-se em silênciosa suspensão, não disse nada.
e você?
(perguntou para o ladrilho debaixo da pia)
eu não sei.
o que você seria?
uma árvore.
porque?
porque sim.
e qual o problema em ser uma maquina de lavar?
não há, se você não quiser que haja.
então porquê?
so estava pensando em como seria ser algo mais orgânico.
e porquê?
as vezes sinto-me um pouco mecânica, exercendo as mesmas funções semanalmente. as vezes só me ligam para bater lençóis.
primeiro veio o silêncio.
depois
começou a trovejar.
um raio de luz desceu do céu.
chegou uma mulher.
com um vestido de cetim azul.
um chapéu pontiagudo.
segurando
uma varetinha
com a mão direita.
ela aproximou-se da máquina.
disse algo baixinho.
apertou um botão.
e a máquina
começou a mexer.
e lá dentro,
ela girou.
e chacoalhou.
chacoalhou.
chacoalhou.
e
depois
desapareceu.
....
o varal e o ladrilho triangularam o olhar, mas nada disseram.
(pelo menos enquanto eu ainda estava lá)
....
*e ninguém,
até agora
teceu comentários
sobre aquele imenso jequitibá
que cresceu,
sem maiores expicações,
no meio do vale do anhagabaú,
em São Paulo
nesta terça-feira,
dia vinte e sete de março
de dois mil e doze
(vai saber...)
1 comment:
otemo!!
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