Tuesday 27 March 2012

o desejo de gertrudes (e outros mistérios que a ciência ainda não conseguiu explicar)

se você não fosse você, o que você seria?
(perguntou a maquina de lavar para o varal) 

o varal, que sempre mantinha-se em silênciosa suspensão, não disse nada.

 e você?
(perguntou para o ladrilho debaixo da pia)

 eu não sei.

 o que você seria?

uma árvore.

porque?

porque sim.

e qual o problema em ser uma maquina de lavar?

não há, se você não quiser que haja.

então porquê?

 so estava pensando em como seria ser algo mais orgânico.

e porquê?

as vezes sinto-me um pouco mecânica, exercendo as mesmas funções semanalmente. as vezes só  me ligam para bater lençóis.

primeiro veio o silêncio. 

depois

começou a trovejar.

um raio de luz desceu do céu.

chegou uma mulher.

com um vestido de cetim azul.

um chapéu pontiagudo.

segurando

uma varetinha

com a mão direita.

ela aproximou-se da máquina.

disse algo baixinho.

apertou um botão.

e a máquina

começou a mexer.

e lá dentro,

ela girou.

e chacoalhou.

chacoalhou.

chacoalhou.

e

depois

desapareceu.

....

o varal e o ladrilho triangularam o olhar, mas nada disseram.
(pelo menos enquanto eu ainda estava lá)

....
 

*e ninguém,  
até agora
teceu comentários 
sobre aquele imenso jequitibá
que cresceu, 
sem maiores expicações,
no meio do vale do anhagabaú,
em São Paulo
nesta terça-feira, 
dia vinte e sete de março 
de dois mil e doze

(vai saber...)